domingo, 14 de junho de 2015

Fisiologia do Parto

No último encontro de gestantes, falamos sobre a Fisiologia do Parto. O tema foi conduzido pela enfermeira obstetra e também doula, Adriana de Lima Mello. Para quem não pode comparecer ou quer relembrar um pouquinho do que foi discutido, segue um resumo feito por ela com carinho para você!!

Fisiologia do Parto

por Adriana de Lima Mello
 Enfermeira Obstetra, Doula e Educadora Perinatal

O parto é um processo involuntário conduzido por partes “arcaicas” do cérebro portanto, quando uma mulher está em trabalho de parto, a parte mais ativa de seu corpo é o cérebro - primitivo, o sistema límbico: hipotálamo e a hipófise, que nós compartilhamos com todos os mamíferos. O neocórtex (parte racional de nosso cérebro) é quem é capaz de nos inibir durante este processo.

Para parir a mulher libera um coquetel de hormônios; ocitocinaresponsável pela contração uterina e ejeção de leite - HORMÔNIO DO AMOR; endorfinas responsáveis pela diminuição da sensação dolorosa; prolactina; responsável pela produção de leite; ACTH (hormônio adreno - corticotrófico) em reposta aos hormônios que o feto libera, mostrando que está pronto e desencadeando as ações hormonais do corpo materno;prostaglandinas que preparam o colo uterino e o útero para responder a ocitocina com a dilatação.

Qualquer situação que estimule a produção de hormônios da família da adrenalina, estimula a atividade do neocórtex e pode inibir o processo do parto. O que pode desencadear a produção de adrenalina?? Frio, mau humor, medo, auto piedade, conflitos situacionais, dúvidas e inseguranças, distrações, falta de privacidade, vergonha, excesso de toques, expectativas, internação precoce, preocupações, conversas excessivas (incluindo perguntas), ambiente muito iluminado, barulhento.

Podem existir dois ciclos rondando este processo de trabalho de parto e parto: 

NEGATIVO – Medo – Dor – Tensão
POSITIVO – Aceitar – Aproveitar –Relaxar


Portanto a mulher em trabalho de parto necessita do respeito a fisiologia de seu corpo, precisa ser permitida e permitir seu corpo agir. Para isso é necessário: sentir-se protegida, segura e apoiada, confortável, relaxada, estar em um ambiente aconchegante, quente, agradável com penumbra e silêncio, ter privacidade, não sentir-se observada e ter liberdade.

A dilatação e o nascimento acontecem em diversas fases e forma progressiva, é comum mulheres terem contrações que podem se manter durante horas e depois passar, podem ser incômodas ou tão fracas que você pode continuar fazendo as atividades do dia a dia, chamamos isso de “falso trabalho de parto” ou “pródomos de trabalho de parto” O importante neste momento é descansar, se alimentar, segurar a ansiedade, aproveitar os últimos momentos de barrigão e... NÃO ficar triste pois estas contrações são importantes e úteis para: a centralização do colo, o amolecimento do mesmo, a insinuação e descida do bebê na pelve materna , etc.

Podem ocorrer também: perda do tampão mucoso – secreção espessa, consistente com ou sem raias de sangue – pode acontecer no início do TP ou durante o TP. As vezes depois da perda do tampão o trabalho de parto pode demorar alguns dias para ser efetivo; rompimento da bolsa – uma grande ou pequena quantidade líquido escorre pelas pernas, um rompimento cedo da bolsa (fora de trabalho de parto) ocorre em 6 – 19% dos partos a termo ( idade gestacional maior que 37 semanas) e então 70% dessas mulheres darão a luz em até 24h e outras 30% em 48h,importante comunicar o médico e/ou sua parteira; uma dor contínua e maçante na região lombar, que pode ser causada pelas contrações uterinas ou uma diarréia, pois existe uma tendência natural de esvaziar o intestino no período que antecede o início do trabalho de parto.

O trabalho de parto se divide “didaticamente” em duas fases:

FASE LATENTE: dilatação entre 2 a 3 cm; o colo do útero mais afina do que dilata, com duração média de 8 horas em mães de primeira viagem e 5 horas em mães com mais de um parto. As contrações acontecem a cada 20 ou 30 min com duração de 20 a 30 segundos.
O que fazer neste momento?? Conversar com sua doula, obstetra ou parteira, alimentar-se, descansar, passear, enfim...aproveitar e economizar energia para a próxima etapa.

FASE ATIVA: dilatação maior ou igual a 4cm, aumentando progressivamente; o colo do útero mais dilata do que afina; com duração média 6 a 12 horas, as contrações aumentam  progressivamente até que na fase final de dilatação chegam a ter intervalos de um minuto e meio e podem durar cerca de 60 a 90 segundos.
O que fazer na fase ativa do trabalho de parto?? Ter a companhia de sua doula, familiares de seu desejo, estar em um ambiente calmo, familiar, aquecido, aconchegante, tomar uma ducha gostosa, ficar na banheira, dançar, ouvir música, se alimentar, fazer exercícios na bola, caminhar, receber massagens, gritar, enfim... o que você tiver vontade: permita o seu corpo!!!

O parto é dividido “didaticamente“ em 4 períodos:
Dilatação que é trabalho de parto, o expulsivo que inicia-se com 10 cm e presença de vontade de empurrar (puxos) e se entende até saída do bebê; a dequitação que inicia-se após o nascimento do bebê até o término do desprendimento da placenta e o período de Greenberg que é um período de recuperação e contração do útero, para que não aconteça hemorragia, se estende a 1 hora após o término do parto (saída da placenta), momento em que se procede os cuidados como medicações e sutura se necessário. Portanto como podemos ver o parto só termina quando a placenta sai.

A adrenalina que nós queríamos lá no início do trabalho de parto, agora é muito bem vinda pois, têm um papel de interação entre mãe e bebê após o parto e durante as últimas contrações antes do nascimento, seu nível de adrenalina se eleva bruscamente, é por isso que assim que se iniciam os PUXOS as mulheres ficam ALERTAS, tendem a optar pela posição vertical, cheias de energia e com uma súbita necessidade de se agarrar a alguém ou algo. Para o bebê o afluxo de noradrenalina possibilita que se adapte a privação de oxigênio, e que esteja alerta ao seio da Mãe. O bebê ativo abre os olhos e busca o contato com a Mãe, o que libera mais ocitocina, fundamental para os momentos seguintes do processo como dequitação da placenta e amamentação.

O coquetel de hormônios necessário para o nascimento está em nosso corpo e quando protegemos a fisiologia permitindo o corpo atual, percebemos o quão é importante para o nascimento, desenvolvimento do bebê e vínculos afetivos. Atualmente a rotina hospitalar atual é caracteriza por um violência ( frio, luz forte, manuseio grosseiro, isolamento). O bebê é induzido desnecessariamente a um estado estresse, que provoca a liberação de cortisol que pode prejudicar o desenvolvimento cerebral. Em contra partida no processo de nascimento fisiológico a Mãe secreta endorfinas e hoje sabemos que o bebê também, portanto logoapós o parto o cérebro dos dois estão impregnados de opiáceos e dopaminas que induzem dependência e vínculo.

Optar e se preparar para um trabalho de parto e parto ATIVOS e de forma NATURAL é ser respeitada, permitir-se fazer o que tiver vontade; ser instintiva; mudar de posições, entregar-se, assumir posições verticais que ajudam a aumentar a dimensão da pelve, a gravidade ajuda a descida do bebê, rotação interna do bebê e circulação sanguínea útero-placentária. E acima de tudo ter autonomia sobre o seu corpo e ter co-reponsabilidade no processo do nascimento de sua família.

Optar por intervenções é assumir riscos, começando pelo risco de precisar de mais de uma intervenção, o uso de hormônios sintéticos (ocitocina), medicações (anestésicos ou analgésicos) e condições de atendimento e ambiente não adequadas podem interferir e/ou interromper a rede fisiológica hormonal e a sequencia do trabalho de parto e parto. Os hormônios sintéticos causam efeitos físicos em determinadas partes do corpo, mas não comportamentais como os produzidos pelo próprio cérebro. A ocitocina materna atravessa a placenta e entra no cérebro do bebê durante o trabalho de parto, agindo para proteger as células cerebrais fetais “desligando-as” e diminuindo o consumo de oxigênio, em um momento em que os níveis de oxigênio disponíveis para o feto são NATURALMENTE baixos. A ocitocina sintética, porém, não têm a capacidade de ultrapassar a parede placentária portanto, não atingirá o organismo do bebê.

Acredite no seu corpo, dedique-se a você, leia, participe de grupo e busque os melhores profissionais e alternativas para o seu parto. VOCÊ PODE!!!


Bibliografia:

- Parto Ativo - Janet Balaskas. Ed. Ground

- WorkShop: “ Parto como escapar das armadilhas” – Michel Odent.Julho de 2011, São Paulo. Anotações pessoais: Adriana de Lima Mello

- A cientificação do Amor – Michel Odent

- Parto, aborto e puerpério – Ministério da Saúde.

Retirado do blog do Grupo Vinculo

sexta-feira, 12 de junho de 2015

As 50 intervenções desnecessárias durante a gravidez, parto e pós parto !

As 50 Intervenções Desnecessárias durante a gravidez, parto e pós-parto (por Ingrid Lotfi com supervisão técnica de Melania Amorim e Maíra Libertad)


1) Exames pré-natais não incluídos na rotina preconizada pelo Ministério da Saúde do Brasil (os exames recomendados são: grupo sanguíneo e fator Rh, sorologia para sífili...s - VDRL, hemoglobina e hematócrito para rastreamento de anemia, exame de urina tipo I, sorologia para HIV e hepatite B - AgHBs, glicemia de jejum, teste para toxoplasmose-IgM, colpocitologia oncótica se necessário).

2) Exames de efetividade discutível sem prévia discussão com a gestante sobre riscos e benefícios (p.ex. pesquisa de EGB (Estreptococcus do Grupo B)).

3) Prescrição de complexo vitamínico, sem uma indicação clara.

4) Ultrassonografias sem indicação clínica.

5) Dopplerfluxometria em gestação de baixo risco ou sem indicação clínica.

6) Ecodopplercardiografia (exame para avaliar o coração) fetal em gestação de baixo risco ou sem indicação clínica.

7) Cardiotocografia em gestação de baixo risco ou sem indicação clínica.

8) Teste oral de tolerância à glicose (TOTG) em gestação de baixo risco ou sem indicação clínica.

9) Cesariana eletiva sem indicação clínica e/ou sob falsos pretextos (ver lista das "Indicações das desnecesáreas).

10) Exames de toque antes do trabalho de parto, sem indicação clara.

11) Descolamento de membranas antes de 41 semanas de gravidez.

12) Descolamento de membranas sem prévia discussão e autorização da gestante.

13) Restringir a escolha do local de parto.

14) Desencorajar ou proibir o acompanhante/doula no parto da escolha da mulher, ou permitir a entrada de pessoas não autorizadas.

15) Internação precoce.

16) Exames de toque/remoção de rebordo de colo abusivos durante o trabalho de parto e de rotina.

17) Exames de toque/remoção de rebordo SEM o prévio consentimento da gestante.

18) Toque Retal.

19) Jejum, tricotomia (raspagem dos pêlos) e enema (lavagem intestinal).

20) Qualquer restrição à deambulação/liberdade de movimentos.

21) Estabelecer limites rígidos para a duração da fase latente, ativa e do período expulsivo.

22) Atrapalhar o processo fisiológico do parto, desconcentrando a gestante.

23) Monitoração fetal contínua ao invés de intermitente (onde o profissional ausculta o bebê de tempos em tempos com o sonar).

24) Uso rotineiro de soro com ocitocina/indução com misoprostol.

25) Uso rotineiro de analgesia de parto.

26) Oferecer ou insistir na analgesia de parto sem que a mulher a tenha solicitado.

27) Amniotomia de rotina (rompimento da bolsa).

28) Puxos precoces (treinar fazer "a" força, antes que a mulher possa sentir os puxos).

29) Puxos dirigidos ("faça força agora", "força comprida", etc).

30) Manobra de Valsalva (orientar a "trincar os dentes e fazer força").

31) Desestimular a escolha pela mulher da posição/ambiente em que quer parir.

32) Manobra de Kristeller (empurrar o fundo do útero)/pressão de qualquer intensidade no fundo uterino/"só uma ajudinha".

33) Manobra de "divulsão" perineal e/ou massagem perineal sem consentimento da mulher.

34) Episiotomia.

35) Não permitir o nascimento espontâneo.

36) Aplicar fórceps e vácuo de rotina e/ou sem autorização da mulher.

37) Sutura rotineira das lacerações.

38) Revisão instrumental do canal de parto de rotina (fórceps, vácuo extrator).

39) Cesariana intraparto sem indicação precisa e sem caráter de emergência.

40) Ligadura precoce do cordão, sem aguardar parar de pulsar.

41) Entregar um bebê vigoroso ao neonatologista para secar e aquecer, afastando-o da mãe.

42) Aspiração de rotina das vias aéreas do recém-nascido.

43) Passagem de sonda de rotina no recém-nascido, para pesquisar atresia de coanas, atresia de esôfago e ânus imperfurado.

44) Uso rotineiro de Credé (colírio de nitrato de prata).

45) Levar bebês saudáveis para o berçário.

46) Fazer qualquer procedimento com o RN sem consultar e obter autorização dos pais.

47) Não permitir o delivramento (saída da placenta) espontâneo.

48) Revisão manual da cavidade uterina de rotina, mesmo em casos de cesárea anterior.

49) Oferecer bicos, chupetas, mamadeiras, com leite artificial para o recém-nascido.

50) Aplicar vacinas sem o consentimento e autorização dos pais.

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