domingo, 29 de abril de 2012

Uso da chupeta - por Melania Amorim





Compartilhando e fazendo a campanha anti-chupeta, com minha irmã Denise Amorim Albuquerque:

Uso da chupeta 
Departamento de Pediatria Ambulatorial e Departamento de Aleitamento Materno da SBP
A sucção é um reflexo do bebê desde o útero materno e pode ser observado através de ultrassonografias, que mostram alguns bebês chupando o dedinho. Esse reflexo é vital para o crescimento e desenvolvimento psíquico do bebê.
A criança, especialmente em seu primeiro ano de vida, tem uma necessidade fisiológica de sucção. Além da amamentação, que garante a sua sobrevivência, a sucção também promove a liberação de endorfina, um hormônio que produz um efeito de modulação da dor, do humor e da ansiedade, provocando uma sensação de prazer e bem-estar ao bebê.
A amamentação é suficiente para satisfazer o desejo básico de sucção do bebê, desde que ele esteja mamando exclusivamente no peito e a mãe o ofereça sempre que o bebê quiser. É importante enfatizar que a sucção do bebê ao mamar no seio materno é completamente diferente do sugar o bico de uma mamadeira ou chupeta. Mamar no peito é muito importante para o desenvolvimento da mandíbula e demais ossos da face, dos músculos da mastigação, da oclusão dentária e da respiração de forma adequada.

O uso da chupeta vem sendo passado de geração a geração, constituindo-se num frequente hábito cultural em nosso meio e, por seu preço reduzido, é bastante acessível a toda população.
Destacam-se como possíveis “prós” de sua utilização:

1 - trata-se de um calmante imediato do choro;
2 - alguns estudos evidenciaram possível efeito protetor contra morte súbita, desde que seja introduzida após a terceira semana de vida ou com a amamentação já estabelecida e utilizada apenas durante o sono (recomendação oficial da Academia Americana de Pediatria - AAP).
Por outro lado, temos muitos “contras” para comentar sobre a utilização da chupeta. 

1 - Inúmeros estudos mostram que a chupeta está sempre associada com um tempo menor de duração do Aleitamento Materno e que a mesma acaba por ser um indicador de dificuldades da amamentação. Este fato acabou sendo decisivo para que a Organização Mundial de Saúde (OMS) e o Fundo das Nações Unidas para a Infância (UNICEF) optassem como recomendação oficial de não utilizar bicos e chupetas desde o nascimento, pois o tempo de duração do aleitamento materno influi diretamente na saúde do bebê e da mãe, quanto mais tempo amamentar, mais saúde para ambos. Esta orientação é compartilhada pelo Ministério da Saúde do Brasil que desde 1990 optou pela implantação da Iniciativa Hospital Amigo da Criança, que tem como regra (nono passo - o sucesso da amamentação) a não utilização de bicos, mamadeiras e chupetas em alojamento conjunto.
2 - Com relação a acalmar, temos uma linha de psicólogos que discordam desta forma de acalmar, pois temos inúmeras maneiras de acalmar um bebê (carinho, colo, cantar, amamentar, etc.) sem a necessidade de utilização de um artifício que traz malefícios para a saúde do bebê. Orientam ainda que quando uma criança começa a introduzir o dedo na boca, temos que dar uma função para as mãos, desta forma, entrega-se brinquedos adequados para a idade para que a distração seja direcionada em outro sentido. Claro que a criança poderá levar este brinquedo à boca (mordedores, por exemplo), mas isto não leva a vícios. Portanto não “vicia” em chupeta e nem no dedo.
3 - Outros estudos apresentam efeitos prejudiciais do uso da chupeta com relação à oclusão dentária, levando à deformação na arcada dentária e problemas na mastigação, além de atrasos na linguagem oral, problemas na fala e emocionais. O risco de má oclusão dentária em crianças que utilizam chupetas pode chegar a duas vezes em relação aos que não usam.
4 - Temos ainda prejuízos respiratórios importantes, levando a uma expiração prolongada, reduzindo a saturação de oxigênio e a frequência respiratória. A respiração acaba ficando mais frequente pela boca (respiração oral), o que piora a elevação do palato (céu da boca), diminuindo o espaço aéreo dos seios da face e provocando desvio do septo nasal. A respiração oral leva à diminuição da produção da saliva, que pode aumentar o risco de cáries. Como a respiração nasal tem a função de aquecer, umidificar e purificar o ar inalado e isto não ocorre de forma adequada na respiração oral, temos maiores chances de irritações da orofaringe, laringe e pulmões, que passam a receber um ar frio, seco e não filtrado adequadamente.
5 - Outras consequências da respiração oral são: as infecções de ouvido, rinites e amigdalites.
6 - O uso de chupetas também está associado a maior chance de candidíase oral (sapinho) e verminoses, já que é quase impossível manter uma chupeta com higiene adequada.
7 - Na confecção de bicos e chupetas temos o uso de materiais possivelmente carcinogênicos (N-nitrosaminas) que ainda carecem de estudos mais aprofundados.
8 - Com relação à morte súbita, a mesma é definida como uma morte inesperada de crianças menores de 1 ano de idade, com pico entre 2 e 3 meses, que permanece inexplicada após extensa investigação, incluindo história clínica, necropsia completa e revisão do local do óbito. Portanto é uma situação em que até o momento não sabemos qual é a verdadeira causa. Existem muitas críticas sobre as metodologias utilizadas nestes estudos, o que enfraqueceria em muito e tornaria no mínimo precoce a argumentação de que a chupeta seria um possível protetor da morte súbita. Apesar de ser uma indicação oficial da AAP, esta opinião não é compartilhada por importantes órgãos como o MS (Ministério da Saúde do Brasil – área técnica da criança e do aleitamento materno), OMS, UNICEF, WABA (ONG internacional que promove a semana mundial da amamentação) e IBFAN (Rede Mundial que luta pelas leis que normatizam a propaganda de alimentos que podem prejudicar a instalação e manutenção do AM), que entendem ser necessária a realização de mais estudos sobre este assunto controverso.
9 - Por fim, vale destacar que um estudo de revisão, multidisciplinar, publicado no Jornal de Pediatria em 2009, buscou na literatura prós e contras o uso de chupeta e chegou à conclusão final de que foram encontrados mais efeitos deletérios do que benéficos. 

Desta forma, a Sociedade Brasileira de Pediatria recomenda que os pais tenham claramente esta visão de “prós e contras” do uso da chupeta, para que, junto ao seu pediatra, possam tomar uma decisão informada quanto a oferecê-la, ou não, aos seus bebês.
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quinta-feira, 26 de abril de 2012

Direito à informação na hora do parto! - por Cris de Melo (Doula)

Gente, ótimo texto da Cris! É bem isso mesmo, leiam, perguntem se informem, tirem as dúvidas, porque qualquer procedimento tem riscos!! Analu - Doula


Qualquer procedimento de intervenção de saúde oferece riscos, por isso é importante conhecê-los de antemão para tomar uma decisão consciente na hora “h”. 
Hoje assistindo o jornal, comecei a prestar atenção quando falaram sobre cirurgia plástica, silicone, problemas com a marca e que a partir de agora, os médicos são obrigados a informar as pacientes dos riscos da cirurgia para aumento das mamas….
Só agora???
Médico explicando um procedimento à paciente
Muitas mulheres optam pela cesárea, nunca de maneira totalmente consciente, muitas vezes induzidas pela família, médicos e amigos.
E nenhuma delas sabe dos riscos que a cirurgia traz naquele momento e nem a longo prazo, e elas tem todo o direito de saber. É engraçado que quem começar a reparar, quando faz a internação numa maternidade, você assina vários papéis, e um deles é a autorização para que o médico intervenha caso ache necessário. Isso inclui quem planeja ter um parto natural, aquele papel autoriza o médico a fazer uma cesárea caso ele ache necessário… você assina o papel, mas nele não diz os riscos da cirurgia.
Claro que quando a cesárea é bem indicada os benefícios superam os riscos, mas no Brasil rola muito mais eletiva do que com necessidade.
Outra coisa é durante o trabalho de parto, alguém fala em ocitocina e a parturiente pergunta: ” Mas tem riscos?” Óbvio que tem, não vem falar que é super seguro que todo mundo usa todo dia- em- quase -todo -mundo, que não tem riscos. É lei da física que toda AÇÃO gera uma reação, então toda intervenção pode sim gerar uma reação negativa naquele parto.
Quem trabalha com parto sabe que não é raro estar tudo bem, e aí entra a ocitocina sintética e o batimento do bebê cai, vai para cesárea.
A parturiente com dor, mas o maior problema mesmo é o medo, e alguém oferece analgesia… e novamente ela pergunta se tem risco…. Dizer que NÃO tem risco, que não tem nenhuma chance do bebê ser afetado, é no mínimo errado.
Tem risco sim! Você pode perder a sensibilidade que atrapalha na hora de empurrar, pode causar efeitos colaterais como cefaleia, coceira no corpo, bradicardia fetal, e acabar numa cesárea!
Até mesmo romper a bolsa artificialmente pode trazer consequências ruins, então, se você é profissional da saúde que realiza partos, não minta para seu cliente. Diga que existe risco, a porcentagem, quais os riscos, deixe que essa pessoa escolha o que é melhor para ela, de maneira consciente.
E mulheres: Sejam as que vão fazer plástica ou que vão parir, pesquisem sobre os procedimentos antes. Se você planeja um parto natural, leia sobre o risco de intervenções, para que na hora H você não tenha dúvidas, e/ou não receba uma informação meia-boca.
Por Cristina de Melo
Originalmente publicado no site Guia do Bebê.

terça-feira, 24 de abril de 2012

Acessórios para o Aleitamento Materno

Deixo esclarecido aqui, que nenhum acessório deve ser utilizado até serem esgotadas todas as alternativas e, sem ser consultado um Consultor em Aleitamento Materno. Geralmente, os problemas com fissuras, mamas ingurgitadas, ou até mastite, se dão por desinformação, pega do bebê ao seio errada, assim como a posição em que o bebê é colocado. 
Ana Luisa Muñoz Rosa


Dra. Maria Beatriz Reinert do NascimentoMédica Neonatologista e Coordenadora Técnica do Banco de Leite Humano da Maternidade Darcy Vargas - Joinville (SC)
Professora e Coordenadora da Área de Materno-Infantil do Curso de Medicina da Universidade da Região de Joinville - UNIVILLE
Doutor em Ciências (Pediatria) - Universidade de São Paulo, USP, São Paulo.
Mestre em Medicina (Pediatria) - Universidade de São Paulo, USP, São Paulo.
Consultora Internacional de Lactação (International Board Certified Lactation Consultant - International Board Certified Lactation Consultant Examiners)
Membro do Departamento Científico de Aleitamento Materno da SBP

O aleitamento materno (AM), embora tido como um ato natural, é um fenômeno culturalmente determinado, e precisa ser aprendido tanto pela mulher quanto pelo profissional assistente, de maneira especial o pediatra, cujos saberes devem ser sempre atualizados (OlaOlorun e Lawoyin, 2006; Araújo e Almeida, 2007).
Embora a imensa maioria das mulheres possa amamentar seu filho sem a necessidade de dispositivos especiais, o uso abusivo e desnecessário desses acessórios tem sido observado na prática clínica diária. Eles estão disponíveis há anos para auxiliar no período de lactação, e em algumas situações específicas, a sua utilização pode facilitar a manutenção do AM (Meier, 2005; Walker, 2010).
Não há dúvida que estratégias de “marketing” afetam uma tomada de decisão, especialmente influenciando as mulheres na busca por produtos inovadores que tornem o AM mais fácil e mais conveniente. No entanto, os médicos pediatras devem considerar que a utilização desses aparelhos nem sempre é desejável, e como em outras situações de assistência à saúde, a instituição de um tratamento deverá ser baseada em evidências científicas, e cada caso acompanhado para que seja determinado o momento certo de retirada da terapêutica (Helsing et al, 2009).
Vale ressaltar que o Brasil dispõe de legislação específica contemplando os alimentos para crianças de primeira infância e outros produtos de puericultura, tais como bicos, chupetas, mamadeiras e protetores de mamilo. Os pediatras precisam estar familiarizados com a Norma Brasileira de Comercialização de Alimentos para Lactentes e Crianças de Primeira Infância, Bicos, Chupetas e Mamadeiras (NBCAL) e com a Lei 11.265/2006, que são instrumentos de proteção ao AM, para adotarem uma postura ética no que diz respeito à saúde e nutrição dos lactentes (Araújo et al., 2006; Brasil, 2009).
Conchas
As conchas são dispositivos plásticos em forma de disco, com um orifício esférico central, que são colocados sobre os mamilos abaixo do sutiã, facilitando a protrusão do mamilo (Alexander et al., 1992).
O uso habitual das conchas para mulheres sem afecção nas mamas não é indicado (Walker, 2010).
O uso pré-natal não traz vantagens para a gestante, mas se houver desejo de utilização para everter mamilos planos ou invertidos, deve ser por um tempo gradualmente aumentado a partir de uma ou duas horas por dia. No pós-parto, pode ser utilizada por 30 minutos antes da mamada ou durante todo o dia, entre as mamadas. Lembrar que o estímulo dos mamilos, tanto quanto a sucção com bomba manual ou seringa plástica com o êmbolo invertido, previamente às mamadas, trazem efeito semelhante (Brasil, 2009).
É importante lembrar que a pressão mantida durante o uso das conchas pode traumatizar o mamilo (Mass, 2004). Para evitar compressão exagerada da aréola ou dos ductos, a concha não deve ser utilizada durante o sono, e o tamanho da concha precisa ser bem avaliado em relação ao do mamilo e ao do sutiã utilizado (Walker, 2010).
Na vigência de fissuras mamilares, conchas com orifícios de ventilação, para permitir circulação de ar e não-aderência do tecido mamário danificado à roupa, podem ser úteis, desde que haja correção da técnica do AM (Brent et al., 1998; Brasil, 2009; Walker, 2010).
Não é recomendado o uso de conchas para coleta de LH, pelo alto risco de contaminação bacteriana. Entretanto, o leite gotejado da mama contra-lateral durante uma mamada ou ordenha pode ser aproveitado, desde que a concha tenha sido lavada com água quente e sabão, e bem enxaguada (Walker, 2010).
Protetores flexíveis (“bicos de silicone”)
São artefatos de silicone, finos e macios, que podem ser colocados sobre a área mamilo-areolar imediatamente antes da mamada, de maneira especial para facilitar a pega (McKechnie e Eglash, 2010).
Não há evidências de que a utilização de protetores flexíveis seja segura para a manutenção da lactação, bem como para um ganho suficiente de peso do lactente, ou mesmo para a produção de volumes adequados de LH, portanto o seu uso deve ser limitado e os pacientes seguidos rigorosamente até o abandono do dispositivo. Não há suporte na literatura para o uso desse artefato em RN de termo ou próximos do termo já nos primeiros dias pós-parto (McKechnie e Eglash, 2010). Sua indicação deve ser individualizada (Lawrence, 2010).
Em casos de mamilo plano, a primeira intervenção deve ser a massagem ou a aplicação de compressas frias mamilares, para ajudá-lo a protrair, imediatamente antes das mamadas. Em se tratando de mamilos invertidos, tentar moldá-los com os dedos ou utilizar bomba de sucção, pode ajudar na sua eversão (Walker, 2010).
Nesses mamilos “difíceis“, e na situação de prematuros com sucção inefetiva ou dificuldade em manter a pega da aréola, se apesar da estimulação dos mamilos previamente à mamada e se todas as tentativas de suporte para uma pega adequada se mostrarem infrutíferas, o produto pode ser experimentado. Lembrar que o uso é temporário, por curtos períodos, na esperança de preservar o AM, enquanto o RN aprende a sugar (McKechnie e Eglash, 2010).
Antes de assentar o bico de silicone na mama, é preciso umedecer a parte interna das bordas e inverte-las, assim como parte do bico do protetor. Isso vai ajudar a puxar o mamilo para dentro do artefato ao momento da colocação na mama (Riordan e Hoover, 2010).
Se houver “confusão de bicos”, o protetor flexível pode ser utilizado associado à técnica da relactação, na vigência de baixa produção de leite, e inclusive na lactação adotiva (Gribble, 2004; Riordan e Hoover, 2010).
Suplementador
É um dispositivo para oferecer nutrição suplementar, e composto de um recipiente para armazenar LH ou fórmula infantil, e um tubo fino, que deve ser fixado no seio da mãe (Borucki, 2005; Walker, 2010).
É utilizado para a relactação, que é uma técnica efetiva para o restabelecimento da produção de leite após interrrupção temporária da lactação. O leite pode ser oferecido via suplementador, evitando-se, assim, o uso de bicos artificiais. Existem os suplementadores industrializados, mas a forma mais simples e fácil de aumentar a ingestão de calorias e estimular o neonato a sugar é oferecer o leite em um copo ou uma seringa com uma sonda nasogástrica acoplada, cuja outra extremidade é fixada na mama, com fita adesiva, próxima ao mamilo (Nascimento, 2008; Melo e Murta, 2009).
Os suplementadores podem ser uma excelente opção para nutrizes e lactentes com dificuldade na amamentação. Apesar do manuseio eventualmente difícil, a sucção ao seio é recompensada e há estímulo apropriado das mamas para aumentar a produção láctea. A transferência de leite é adequada, desde que o lactente seja capaz de manter uma sucção efetiva. Seu uso pode ser temporário, mas em algumas situações, como lactação adotiva, mamoplastia redutora, insuficiência glandular verdadeira ou no caso de problemas genéticos e neurológicos do lactente, há necessidade de emprego continuado do produto (Borucki, 2005; Guóth-Gumberger, 2008).

Metodos
Imagem: Dr. Marcus Renato
A indicação de seu uso deve ser precisa, e o desmame do artefato, programado e gradativo (Walker, 2010). Um seguimento constante da dupla mãe-bebê é fundamental, para avaliação das mamadas, do ganho de peso e da produção de LH (Melo e Murta, 2009; Walker, 2010).
Lanolina
A lanolina é uma cera natural, removida a partir da fervura da lã de ovelha. Por ser um ingrediente natural pode conter pesticidas e outros contaminantes, além de ser uma substância alergênica. É dita anidra, quando é pura, sem adição de água, e neste caso, considerada hipoalergênica. Há diversos estudos clínicos indicando a lanolina para a prevenção e tratamento de fissuras mamilares, embora a melhor maneira de evitar trauma mamilar seja através do posicionamento e pega corretas na amamentação (Mass, 2004).
Entre as principais causas de desmame estão a dor e o trauma mamilar. A cicatrização das fissuras mamilares é difícil por vários motivos, uma vez que o mamilo continua a ser traumatizado a cada nova mamada, e a ferida está sujeita à contaminação por microorganismos da flora cutânea materna e da flora bucal do lactente (Brent et al., 1998).
A orientação da técnica do AM e da pega correta são fundamentais para diminuir a incidência de dor mamilar. Nenhum agente tópico parece ser superior a outro no manejo dessa afecção, portanto há controvérsias na indicação de qual tratamento seria mais apropriado (Morland-Schultz e Hill, 2005; Coca e Abrão, 2008).
Em casos de lesões extensas, ou que não melhoram com ajustes no processo de amamentar, a lanolina pode ser recomendada (Brent et al., 1998; Coca e Abrão, 2008).
No entanto, não deve ser esquecido que em função dos seus elementos de defesa, da sua disponibilidade e custo zero, o próprio leite materno pode ser utilizado para tratamento do trauma mamilar (Mohammadzadeh et al., 2005), apesar de haver a possibilidade de que sejam disseminadas bactérias na ferida (Smith e Riordan, 2010).
Curativos de gel
São curativos na forma de disco a base de gel, com 3 componentes primários que são glicerina, água e poliacrilamida. Há descrição de que são produtos seguros e que são mais efetivos que o ungüento de lanolina no tratamento do trauma mamilar (Dodd & Chalmers, 2003).
Considerando que a utilização de curativos de gel aumenta a chance de infecção pelo fato de ocorrer o contato freqüente da lesão com a mucosa oral do lactente, bem como pela flora da pele da mãe, e ainda pela presença do próprio leite materno que serve como meio de cultura, sua escolha deve ser questionada. Além disso, o efeito bactericida da glicerina não é instantâneo, e também pode haver contaminação pela mão da mãe (Brent et al., 1998; Morland-Schultz & Hill, 2005).
Protetores absorventes
São artefatos indicados para absorver o excesso de leite materno. Podem ser descartáveis ou reutilizáveis. Ponderando que a prevenção do vazamento de LH em público seja importante para muitas lactantes, a utilização eventual de protetores absorventes, desde que confortáveis e macios, pode ser uma solução prática (Griffiths, 1993; Smith e Riordan, 2010).
Considera-se, no entanto que, para não manter a pele dos mamilos úmida, especialmente os artefatos descartáveis revestidos com plástico impermeável, devem ser trocados frequentemente, e nos episódios de candidíase mamilar, os absorventes reutilizáveis precisam ser fervidos diariamente (Griffiths, 1993; Bodley e Powers, 2000; Eglash et al., 2008). Além disso, o cuidado de umedecer o protetor antes da sua retirada, no caso de estar aderido à pele, deve ser tomado (Smith e Riordan, 2010).
Não é recomendado o uso de papel higiênico ou lenços de papel com a finalidade de sorver o excesso de LH, uma vez que a superfície da pele fica muito molhada. Mas vale ressaltar que a alternativa comprovadamente mais eficaz, barata e fácil de fazer em casa é a utilização de oito camadas de papel-tecido próprio para fraldas, composto por fibras de celulose, entremeadas por 12 camadas de papel higiênico de folha dupla (Griffiths, 1993).
Salienta-se no entanto, que o AM em livre demanda e a compressão mamária, por exemplo com os braços cruzados sobre as mamas, são em geral suficientes para inibir a vazão indesejada de LH (Smith e Riordan, 2010).
Sutiã
É uma peça do vestuário feminino, própria para acomodar ou sustentar a mama, e especialmente indicada no período de gestação e lactação, em função do aumento de volume do órgão (Brasil, 2009). O sutiã, apesar de não pertencer ao arsenal de artefatos para tratamento de intercorrências mamárias, está diretamente ligado à mama lactante (Smith e Riordan, 2010).
A utilização de sutiã com abertura central, para preparo dos mamilos no período pré-natal, não está indicada (Brasil, 2009; UNICEF, 2009).
O uso de sutiã não é obrigatório, apesar de que todas as nutrizes que desejem utilizá-lo precisam de modelo e tamanho adequados para acomodar corretamente as mamas (UNICEF, 2009; Smith e Riordan, 2010).
Um bom sutiã de amamentação não deve restringir o acesso do bebê ao peito. Precisa ser confortável, abranger toda a mama, sem que tecido mamário fique comprimido abaixo da borda da peça do vestuário. Um sutiã bem ajustado não deve subir nas costas, nem deixar marcas das alças nos ombros. A abertura frontal é conveniente, e pode ser especialmente útil quando se necessita amamentar em público. Para dormir, não deve ser escolhido um sutiã com aro de metal (Campbell, 2006; UNICEF, 2009; Smith e Riordan, 2010).
Na vigência de candidíase mamária, trocas freqüentes de roupas, sobretudo as íntimas, estão indicadas (Bodley e Powers, 2000; UNICEF, 2009). No caso de mastite, recomenda-se abolir o uso de sutiã, particularmente durante o sono. A escolha deve recair sobre roupas mais largas, e quando necessário, eleger um sutiã mais frouxo (Spowart et al., 2004).
Considerações Finais
O pediatra ocupa uma posição estratégica para estimular o AM e para solucionar problemas nessa área, mas o uso de dispositivos para a amamentação deve ser restringido a
ocasiões em que haja evidências aceitáveis de que eles poderão favorecer a manutenção da lactação e, que realmente, serão de grande auxilio para as nutrizes. Não pode ser desconsiderado o conflito de interesses envolvendo profissionais da saúde e fabricantes de dispositivos de auxílio ao AM, tanto na assistência à saúde como na pesquisa em amamentação (Helsing et al., 2009).
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Publicado em: 18/4/2012

sábado, 21 de abril de 2012

As 12 maneiras mais frequentes de enganar a mulherada – por Ana Cris Duarte



Cesárea 171-I: Cordão enrolado
A verdade: quase um terço dos bebês nasce com circular de cordão. Mas a gelatina que recheia o cordão ajuda a impedir que os vasos se fechem. Além disso o bebê não respira dentro do útero!
Cesárea 171-II: Pressão Alta
A verdade: A hipertensão é um problema grave, mas nos casos em que ela foge ao controle pode ser necessário induzir o parto normal.
Cesárea 171-III: Bacia Estreita
A verdade: Impossível saber o tamanho da bacia por dentro e os ossos da cabeça do bebê são soltos e se sobrepõem para passar pela bacia materna
Cesárea 171-IV: Bebê Grande
A verdade: Impossível saber o peso do bebê pelo ultrasom e os ossos da cabeça do bebê são soltos e se sobrepõem para passar pela bacia materna
Cesárea 171-V: Passou do Tempo
A verdade: A gravidez humana normal vai até 42 semanas. Passado o prazo considerado seguro, pode ser necessário induzir o parto normal.
Cesárea 171-VI: Parto Prematuro
A verdade: Bebês prematuros nascem em melhores condições se for por parto normal
Cesárea 171-VII: Diabetes Gestacional
A verdade: É uma condição em geral controlada com dieta, exercícios e medicamentos, e não tem qualquer relação com a via de parto. Nenhuma!
Cesárea 171-VIII: Bebê fez cocô (mecônio)
A verdade: O mecônio não é um problema, a não ser nos casos em que os batimentos cardíacos do bebê estão insatisfatórios, evidenciando sofrimento fetal. Mesmo assim a indicação é o sofrimento fetal, não o mecônio.
Cesárea 171-IX: A bolsa rompeu e não teve contração
A verdade: É só aguardar 24 horas e se não entrar em trabalho de parto, induzir. A indução pode levar até 48 horas para “engatar”. Antibióticos podem prevenir infecção. Fácil convencer o GO de esperar 72 horas, não é mesmo?
Cesárea 171-X: Não teve dilatação
A verdade: Todas as mulheres dilatam se aguardar a fase ativa do trabalho de parto.
Cesárea 171-XI: Não entrou em trabalho de parto
A verdade: Se não for colocada numa mesa cirúrgica, toda mulher entra em trabalho de parto.
Cesárea 171-XII: Na consulta de pré natal o colo do útero está fechado
A verdade: O colo do útero em geral fica fechado. O que faz ele abrir são as contrações de trabalho de parto.
Cesárea 171-I: Pouco líquido
A verdade: A diminuição do líquido amniótico é normal e esperada no final da gestação. No caso de diminuição acentuada, pode ser necessário induizir o parto normal, o que pode levar até 48 horas. Fácil convencer o GO de esperar 72 horas, não é mesmo?
Por Ana Cristina Duarte – Obstetriz – São Paulo
Retirado daqui

sexta-feira, 20 de abril de 2012

As outras dores do parto



Como pacientes são maltratadas e por que a cesárea, a episiotomia e o uso de ocitocina são considerados abusos
Por: Cida de Oliveira e Yohana de Andrade
Publicado em 12/03/2012
Era final de tarde de uma quarta-feira chuvosa quando Ana Cristina percebeu que estava na hora. Dirigiu-se ao Hospital Maternidade Leonor Mendes de Barros, no Belenzinho, zona leste paulistana, e, com dores e inquieta, aguardou pelo atendimento. “Eles tratam mal quem faz escândalo”, temia. Depois de esperar por quatro horas, na companhia da mãe, foi informada: não havia vagas e deveria procurar outro lugar para ter o bebê. 
Telefonou para o irmão e pediu ajuda. Precisariam atravessar a cidade para ir até a Santa Casa de Misericórdia, na região central – reconhecida pela qualidade do atendimento, apesar da quantidade enorme de pacientes. Finalmente, à 1h da manhã, Ana conheceu João, seu primeiro filho. 
Frases como “Na hora de fazer não doeu, né?”, “Não fechou as pernas na hora certa, agora aguenta!” estão entre as mais lembradas pelas entrevistadas na pesquisa Mulheres Brasileiras e Gênero nos Espaços Público e Privado, de 2010, feita pela Fundação Perseu Abramo e pelo Serviço Social do Comércio (Sesc). A cada quatro gestantes, uma sofreu maus-tratos quando deu à luz, aponta o estudo. Os relatos são de exame de toque doloroso, negativa de alívio da dor, falta de explicação para os procedimentos adotados, grosserias e ausência de ­atendimento. Essa via crucis é uma face da violência a que muitas mulheres em todo o mundo, em especial as mais pobres, estão expostas na hora do parto. No momento mais importante de sua vida, em que deveria prevalecer o sentimento de felicidade pela chegada do filho, são vítimas de negligência, discriminação social, violência verbal (grosserias, ameaças, reprimendas, gritos), humilhação intencional e violência física, como a falta de medicação anestésica quando indicada pelo médico, e até mesmo abuso sexual. 
Para o sociólogo e coordenador da pesquisa, Gustavo Venturi, da Universidade de São Paulo (USP), nem todas têm consciência de estar sendo maltratadas. “Mulheres com menor escolaridade não consideram ter sido desrespeitadas. Para elas, que se baseiam no que ouviram da experiência de amigas e parentes próximas, o parto em hospital é assim mesmo. Vai doer; vão gritar com ela. Há até a percepção de algo negativo, mas por ser visto com naturalidade não é entendido como maus-tratos” , afirma. Isso explica em parte por que muitas, assustadas, sufocam sua maneira de expressar a dor e, caladas, chegam a morder a si mesmas.
Segundo pesquisa da psicóloga Janaína Marques de Aguiar, da Escola Nacional de Saúde Pública Sérgio Arouca, ligada à Fundação Oswaldo Cruz (Fiocruz), a violência institucional nas maternidades é determinada, em parte, por uma discriminação de gênero, que transforma diferenças – ser mulher, pobre de baixa escolaridade – em desigualdades. Quando é negra, sofre ainda discriminação racial. 
Outro aspecto grave é a persistência de uma relação hierárquica na qual a paciente é tratada como uma peça de intervenção profissional, e não sujeito dos próprios atos e decisões sobre o que lhe acontece. Isso tudo num contexto histórico e ideológico que coloca a mulher num papel inferior tanto do ponto de vista físico como social, no qual seu corpo e sua sexualidade tornam-se objeto de controle da medicina.
A desinformação é outro fator que contribui para a violência na maternidade. “A maioria das mulheres vai para o parto sem nenhuma informação”, aponta Simone Diniz, professora do Departamento de Saúde Materno-Infantil da Faculdade de Saúde Pública da USP. “Muitas são convencidas a aceitar a cesárea na hora, momento de dor aguda não apropriado para a reflexão sobre qual é a melhor decisão.” Esse tipo de parto, rápido e prático apenas para o médico, pois na maioria das vezes é desnecessário e expõe a parturiente aos riscos que envolvem uma cirurgia, vem sendo considerado uma das maiores violências. 
De acordo com o Sistema de Informações sobre Nascidos Vivos (Sinasc) e o Sistema de Informação Hospitalar (SIH/SUS), todo ano são registrados cerca de 3 milhões de nascimentos no Brasil, dos quais 46,6% por parto cirúrgico. Em 2007, no sistema público, a taxa de cesarianas foi de 35% e, no atendimento privado, de 80%. O limite recomendado pela Organização Mundial da Saúde (OMS) é 15%. O índice brasileiro é superior aos registrados em qualquer outro país do mundo.  Segundo a Pesquisa Nacional de Demografia e Saúde, de 2006, a maioria das cesarianas é agendada com antecedência. 
As gestantes que conseguem ter parto natural são, na maioria das vezes, submetidas à episiotomia, procedimento condenado internacionalmente, no qual as mulheres têm a vulva e a vagina cortadas e costuradas sem necessidade. Hoje se sabe que a recuperação é mais rápida quando há laceração muscular devido à pressão natural da cabeça do bebê, e não quando o corte é feito artificialmente, por meio de bisturi. Outro procedimento agressivo é a administração excessiva do hormônio ocitocina, que potencializa as contrações uterinas – e as dores – para que o nascimento seja mais rápido. 
“O trabalho de parto, que pode durar de oito a dez horas, é uma oportunidade para a equipe de saúde conversar e estabelecer um vínculo com as pacientes”, opina Elder Lanzani Freitas, estudante da Faculdade de Medicina da USP. 
O Sistema Único de Saúde (SUS) e a Agência Nacional de Saúde (ANS), que regulamenta as operadoras de saúde no Brasil, já realizam algumas ações para a humanização do parto e a conscientização de médicos e pacientes. 
Desde 2000, o programa Trabalhando com Parteiras Tradicionais pretende melhorar a atenção ao parto domiciliar e busca sensibilizar os gestores do SUS e profissionais de saúde para que reconheçam as parteiras como parceiras e desenvolvam ações para apoiar e qualificar o trabalho. Nesse caso, entende-se por humanização o parto natural centrado na individualidade da mulher e com a abordagem de tecnologia adequada. Seu predomínio significará que as taxas de maus-tratos na hora do nascimento terão diminuído.
 Grávida: o que fazer?
Muitos dos abusos cometidos contra as mulheres não aconteceriam se elas estivessem bem informadas. Assim, o primeiro passo é entender o próprio corpo e o que acontece com ele na gravidez. Cada uma deve ter capacidade de escolher o que é melhor para si, não para a equipe médica ou para o marido. Também se deve lembrar que, por milhares de anos, bebês nasceram sem a necessidade de uma cirurgia: partos normais eram o bastante.
Violência: como denunciar
A mulher vítima de violência na hora do parto pode e deve ligar para o número 180, da Central de Atendimento da Secretaria de Políticas para as Mulheres. A reportagem fez o teste e encontrou um atendimento rápido e eficiente.
Funciona 24 horas, todos os dias. As atendentes são treinadas. O serviço consiste não no registro de denúncias, mas em ouvir a mulher e orientar, instruir, sobre como, onde e a quem procurar em busca de ajuda e como fazer para denunciar de maneira mais eficiente o hospital, médicos, enfermeiros e demais profissionais que a atenderam.
A secretaria informa que a comunicação não precisa ser feita exclusivamente pela vítima, muitas vezes fragilizada e traumatizada. Parentes e amigos podem ligar para o 180. E quanto antes melhor, pois é possível até tentar um flagrante. As Delegacias da Mulher da localidade mais próxima também estão entre os locais em que a denúncia deve ser feita.
 Com isso em conta, cada grávida poderá saber como funciona uma cesárea e compará-la ao parto normal. É importante conversar com o médico sobre o uso de ocitocina e sobre a prática da episiotomia e opinar contra ou a favor.
A lei brasileira garante a toda grávida o direito de ter um acompanhante na hora do parto. Deve-se exigi-lo. Além de auxiliar a mulher nessa hora, a pessoa pode intimidar ou evitar qualquer tipo de violência por parte da equipe médica. 
Caso a paciente sinta que sofreu algum ato de violência, deve-se denunciar prontamente. Gritos, tapas e mau atendimento em um momento tão importante não devem ser considerados práticas-padrão. E toda grávida tem o direito de expressar dor, sempre. 

quarta-feira, 18 de abril de 2012

Notícia - Funchicórea: fitoterápico para cólicas perdeu o registro da Anvisa



Tradicional para o combate da dor dos bebês, o remédio não tem eficácia comprovada

Luiza Tenente

O que você costuma fazer para aliviar a cólica do seu bebê? Se a resposta for Funchicórea, vai ter de encontrar outra alternativa. O remédio fitoterápico, que combateria a prisão de ventre e as cólicas nos primeiros meses de vida da criança, teve seu registro cancelado pela Agência Nacional de Vigilância Sanitária (Anvisa), recentemente. Em 2005, a renovação do registro do Funchicórea foi indeferida, porque a empresa fabricante do produto, Laboratório Melpoejo, não havia cumprido as exigências técnicas e apresentara documentação em desacordo com as normas da época. A justificativa da Anvisa foi a falta de comprovação da eficácia e da segurança do fitoterápico. Mas o laboratório, na época, recorreu e conseguiu que ele continuasse sendo comercializado. 

A CRESCER apurou que o fitoterápico, tradição há 72 anos, finalmente, está desaparecendo das maiores redes de farmácia de São Paulo (SP). Mas, se mergulhar a chupeta no famoso pozinho não surte efeito, por que há algumas mães reclamando da decisão da Anvisa? O pediatra Marcelo Reibscheid, do Hospital e Maternidade São Luiz (SP), explica que os bebês podem até se acalmar com o fitoterápico, mas isso não significa que a cólica passou. Ele apenas se distraiu. Isso porque um dos componentes do remédio é a sacarina, um tipo de adoçante artificial, que como toda substância doce desperta aquela sensação de prazer. A mesma que você sente ao comer chocolate. “Não é recomendado que a criança consuma açúcar no primeiro ano de vida, muito menos adoçante”, alerta Reibscheid. 

Mas é claro que existem outras formas de amenizar as cólicas do bebê. O mais importante é manter a calma. “Vale lembrar que o sintoma é fisiológico e diminui após os três meses de vida", tranquiliza o pediatra. Como os sistemas digestório e neurológico ainda estão imaturos, os movimentos peristáticos (aqueles do intestino) são desordenados e causam desconforto. A seguir, algumas dicas para ajudar a diminuir o sofrimento do seu filho, sem o uso de remédios. 

Massagem 
A shantala, técnica indiana, é uma boa forma de acalmar o bebê. Você pode fazer movimentos circulares, com uma leve pressão, que também aquecerão a barriga dele. Usar óleo de bétula ou de amêndoa é outra dica para fazer a massagem ficar mais prazerosa. 

Ginástica 
O famoso exercício da bicicletinha estimula a eliminação de gases. Flexione e estique as pernas do seu filho, para que ele solte puns e arrote. 

Banho ou bolsa de água quente 

Aquecer a região dolorida é uma ótima forma de amortecer a dor. Um banho morno, duas a três vezes ao dia, é indicado pelo pediatra Marcelo para acalmar a criança. No caso da bolsa, sempre a embrulhe em uma toalha, para não queimar a barriga do bebê. 

Alimentação 

Há mitos quanto à influência da alimentação da mãe que amamenta na produção de gases da criança. “Não existem privações na dieta”, diz Reibscheid. No entanto, evite exageros e bebidas que fermentem, como as alcoólicas e as gasosas, enquanto estiver no período de aleitamento. 

Colo 

Além do carinho, você contribuirá para aquecer a barriga do bebê e aliviar a cólica. Alguns pais gostam de segurar o bebê deitado de bruços em seu antebraço. A posição também pode ajudar no alívio das dores.

segunda-feira, 16 de abril de 2012

Carta da Nona Lua – O parto tem seu próprio tempo


mandala journey

por Flávia Penido em 09/05/2010

Sinto que você está chegando, meu corpo vem me dando seus sinais. Foram nove meses de comunhão, dias melhores, outros piores, agora chegam ao fim. Quem venha com o tempo, que venha com a lua, que venha! Já te aguardo, te pressinto. Confesso para ti, somente para ti, confesso que já me sinto ansiosa pela sua chegada. Meu corpo todo sente o seu peso, e já está tão difícil mover quanto ficar quieta.
Respiro fundo e suspiro, nascer é tempo sem hora.Aguardo você sentir-se pronto, pronto para respirar por si só. Saiba que eu mesma já me sinto inteiramente pronta. Durante os nove meses eu estive ocupada, sim, eu sei. Também durante nove meses eu me acostumei à sua presença em mim. Tive bastante chance de me preparar, a mente teve seu tempo de absorver as mudanças que trará para minha família. Sinta-se desejado e amado, meu bebê, por todos nós. Desejo-te.
Pressa? Não eu não tenho pressa, para que andar depressa? Quero que venha, mas que venha na sua hora. Não existe hora marcada, não marquei na agenda. Sem nenhum compromisso, que seja pelo nosso desejo mútuo.
Quando meu corpo e você estiverem em trabalho parto, vamos nos repartir, você vai partir para uma nova jornada, é uma viagem intensa, procure a luz, procure o caminho que te ofereço em meu corpo.Não tema essa viagem, porque estou sempre contigo. Despeço-me da barriga linda e grande, você se despede do interior do meu corpo. Mas nos encontramos aqui deste lado, em uma nova e longa aventura. Começa em um grande deleite. Sinta o amor que confirmo ao colocar minhas mãos em meu ventre, sinta o calor que emana. Este calor destas mãos você vai sentir aqui fora. Pode vir, garanto que estou aqui.
Sem pressa para essa viagem, criança, sem pressa. Venha surfando em onda esplêndida, venha no ritmo que imprimimos juntas, somente nós duas. Você e eu temos todo o tempo, todo o espaço para essa caminhada. Temos bola, temos água, temos de tudo! O tempo e espaço do parto é nosso, só nosso. É o meu parto e o seu nascimento. A dinâmica será somente nossa e sem artifícios exteriores, creia em mim, eu lhe prometo que será nossa e de mais ninguém. Como estou tão segura? Por que desta vez eu fiz as escolhas que me aprazem desde o começo, ouvindo meu mais intimo desejo! Sim, você já sabe disto, eu ouvi os meus medos e procurei sua cura, procurei sanar suas carências.Impedi também que medos alheios me assombrassem.Cá estou pronta para a entrega. Ninguém vai precisar nos ajudar nessa viagem de partida e de chegada. Você pode ouvir a calma e potente batida do meu coração. Então, prepara-se e dê o sinal! Venha na lua que te escolher e venha com vontade de me ver, olhe para a luz!

Tempo e Espaço
O Parto tem seu próprio tempo
Tempo frugal
Tempo sem pressa
Tempo que se acha
Tempo que se dá
Tempo que procria
Tempo que se cria
Tempo que se cri- ança
Tempo que se cansa
Tempo que se dança
Tempo que deságua
Tempo sem mágoa
Tempo que demora
É tempo sem hora…
O parto tem seu próprio espaço
Espaço sem lugar
Espaço de esperar
Espaço que se faz
Espaço que se abre
Espaço que se tem
Espaço que contém
Espaço que se dança
Espaço que se água
Espaço que se bola
Espaço que rebola
Espaço que se embola
Espaço de ir embora
É espaço de ir, em boa hora
Tempo sem drama
Espaço de trama
Hora de criança
Lugar de mulher
Autora: Flávia Penido

sexta-feira, 13 de abril de 2012

Relato da cesárea de Érian e do nascimento da princesa Ester


Érian entrou em contato comigo pela internet (facebook ou e-mail, não lembro), quando estava com 24 semanas. Disse que gostaria do acompanhamento de uma doula e que gostaria que seu parto fosse domiciliar. Me contou que tinha uma cesárea anterior de 6 anos. Depois de mais algumas conversas ela decidiu que eu seria sua Doula.

Demorou um pouco para nos encontrarmos, até tentamos nos falar pela webcam, mas não conseguimos. Sempre me mandava noticias de como estava, como tinham sido as consultas no posto de saúde. Nesta época havia entrado em contato com uma equipe de parto domiciliar da capital,  e uma parteira. Mas não deu certo devido aos valores e condições de pagamento.

Decidimos procurar hospitais que deixariam pelo menos a doula entrar, fomos sondando e ficamos com 3 alternativas, mas a melhor opção seria o hospital de Clínicas. Um dia Érian me enviou uma mensagem dizendo que havia encontrado uma equipe numa cidade próxima. Ela estava ansiosa pelo encontro com a médica. Nesta época ela já estava com 35 semanas de gestação. A médica disse que não poderia assumi-la de imediato, pois viajaria, e talvez quando ela voltasse Ester já teria nascido. Mas combinaram de se falar na volta, se caso não tivesse ocorrido o parto. E assim foi. Érian e Fernando estavam muito satisfeitos com a conversa, e felizes, pois conseguiriam o parto domiciliar tão esperado.

Fomos nos encontrando e conversando sobre alguns aspectos do parto, intercorrências, plano B, e outras coisas. Creio que no total foram 5 encontros maravilhosos, e recheados de muita alegria. Quando Érian estava com 39-40 semanas fui pintar sua barriga, para guardarmos uma lembrança especial, e foi uma tarde fabulosa.

Estávamos só aguardando Ester dar sinal de que estava vindo, enchermos a banheira, que foi emprestada de uma amiga, e aproveitar o momento mágico que é o nascimento de uma criança. Mas nesta ultima mudança de lua, Érian me chamou no facebook e deu a má notícia...A equipe que assistiria o parto dela, não o iria fazer mais. Foi um choque! No dia seguinte fui vê-la e estava visivelmente abalada...
Disse à ela que não importava, que nós iriamos  para o hospital escolhido, que tem suite individual, com bola, cavalinho, ducha quente, “humanizado”, e que tudo daria certo. Érian não tinha medo de não conseguir, mas sim da equipe que a atenderia no hospital, e se eles a respeitariam.

Poucos dias depois da triste notícia, ela entrou em fase latente, com cólicas e dores nas costas. Uma amiga dela, que aplica acupuntura, deu uma força, estimulando alguns pontos. Contrações a cada 15 minutos, às vezes encurtavam, mas espassavam novamente. Érian contava elas a cada 3 minutos. Como eles moram a 1 hora da minha casa, decidi ir lá e partejar.Cheguei pelas 15 horas, e as contrações estavam a cada 15 minutos mesmo. Decidimos ir na Adriana fazer outra sessão de acupuntura para ver se engrenava. Érian ainda estava chateada pelo seu desejo de ter um parto domiciliar não ter acontecido. Depois da sessão as contrações começaram a vir a cada 7 minutos. Fernando fez uma torta de atum com azeitona e pimenta maravilhosa. Comemos muuuito!

Érian tentou descansar, mas não conseguiu. Foi para ducha e lá ficava um tempo, saia, ia para bola, e assim ficou. Pelas 12 hs da noite fomos todos tentar dormir. Érian já estava com contrações a cada 5 minutos, e não conseguiu dormir, relaxar. Pelas 4 hs as contrações começaram a ficar de 4 em 4 minutos e querer diminuir mais o intervalo. Érian e Fernando temeram em sair muito tarde, pegar trânsito e ter a possibilidade de Ester nascer no carro. Quase 6 hs da manhã saímos em direção ao Hospital de Clínicas. Mas no carro as contrações aumentaram de intervalo. Me dei conta de que talvez devessemos ter ficado mais tempo em casa...

Chegamos ao hospital e Érian começou a fazer a ficha, e foi para sala de avaliação. Fui com ela e Fernando aguardou no corredor. Foi preenchida uma ficha e perguntado sobre sua césarea, sobre o pré natal, exames, etc. Nisso entra uma academica. A médica fez um toque e disse que ela estava com 6 cm. Ficamos felizes. Depois veio outra médica, fez as mesmas perguntas e fez outro toque...na verdade eram 4 cmde dilatação. Ai começou a complicar. A médica alegou que como Érain tinha uma cesárea, mesmo sendo de quase 7 anos, ela deveria ficar o TP todo no monitoramento contínuo ( MAP). A indignação da minha doulanda era visível.

No quarto tentamos argumentar sobre o MAP, mas nada. Fernando ainda aguardava para entrar. Eis que surge um “pelotão” dentro do quarto, dois médicos, que ainda não tinhamos conhecido, e uns 5 acadêmicos de medicina. Érian respondeu a várias perguntas, foi avaliada por um enfermeiro (eu acho), que ficava com a mão na barriga vendo a dinâmica das contrações por 10 minutos....aff! Isso era desconfortável e Érian não estava gostando nada (eu menos ainda). Ela perguntou a médica- professora se realmente teria que ficar no MAP, pois sua cesárea era muito antiga.  A médica disse que não havia a necessidade e que pediria para deixarem ela caminhar, usar a bola...mas isso não aconteceu.  A primeira médica que a atendeu veio conversar com ela e explicar a “ imprencidível” necessidade dela ficar sendo monitorada frequentemente. Tentei argumentar, mas quase fui expulsa do local. Na realidade, minha presença incomodava muito a equipe que estava lá. Resolvi me acalmar e ficar quieta, para não correr o risco de minha doulanda ficar sem suporte.

Logo depois disso Fernando chega, e contamos tudo o que estava acontecendo. Chegou uma hora que ela queria ir no banheiro e teve que implorar para tirarem ela do MAP.  Gente sem noção, desumana ao cubo. Mas eis que às vezes surgiam enfermeiras maravilhosas e tentavam ajudar.Quando conseguimos tirar Érian do maldito MAP, disse a ela que ficasse o máximo possível no banheiro. Mas sempre, a cada hora, religiosamente a colocavam no MAP, faziam o exame de toque, às vezes dois de uma só vez, e ficam apalpando a barriga para ver a porcaria da dinâmica! Olha que saco viu! As contrações espassam sempre que entrava algum chato para fazer não sei o quê....que merda tá?! Tô puta com isso. O desrespeito era claro, e não acatavam nada do que ela pedia.

Cansada, com fome, sendo invadida o tempo todo, Érian começou a travar. Fernando e eu tentávamos animá-la, mas estava claro o cansaço, a indignação, a frustração. Estávamos sendo engolidos pelo sistema. Os médicos estavam sem paciência, porque ela não dilatava do jeito e no tempo que eles queriam. Ai começaram as intervenções. Primeiro rompimento artificial da bolsa. As contrações apertaram um pouco, fomos para ducha graças ao anjo chamado Sandra, enfermeira, que foi falar com a medica para pedir autorização. Mas 1 hora depois de novo o MAP, toque, etc, etc, etc. Depois nada de evolução, a opção ocitocina e remedinho para dor. Ai ficou punk!  E a ordinária da médica, ainda alertou, “se não dilatar nada em uma hora vamos ter que fazer cesárea!”. Em uma hora Érian dilatou meio dedo. A médica, cara de pau, deu o diagnóstico de desproporção céfalo- pélvica, com 6 dedos de dilatação....olha que merda!

Érian sabia que era mentira, mas sabia que não conseguiria mais vencer o sistema. Aceitou a cesárea dolorosamente imposta! Fernando e Érian queriam que eu ficasse com eles durante a cirurgia. Ela na verdade não queria ver nada de tão chateada que estava, mas  falei para não fazer isso... Uma enfermeira, charope,  disse que eu não podia ficar durante a cirurgia, porque não tinha mais utilidade, e que eles precisavam controlar o ambiente...acho que sou leprosa, só pode!

Mesmo assim, com todo este desrespeito, Ester nasceu muito bem, às 18:29 do dia 10 de abril, pesando 3390 gramas e medindo 51 cm de puro charme! Linda demais. Ester mama que é uma beleza. Agora estão só no aguardo para ir para casa.

Minha flor Érian, te agradeço por me deixar te auxiliar neste momento de alegria que é o nascimento de um filho. Foste guerreira, aguentou coisas que muitas não teriam aguentado. Não fique triste, agora é cuidar da pequena Ester e da fofura da Máh! Vou estar contigo, te apoiando sempre!

Fernando, também te agradeço! Deste toda força possível a Érian, e não esmoreceu um minuto sequer. Te agradeço muito mesmo!

OBS: Me desculpem os palavrões, leitores do meu blog. Mas tô de cara com tudo o que aconteceu...muito irritada, querendo fazer horrores....querendo matar 3!!! Este é um relato indignado de uma mulher, de uma mãe, de uma doula...


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