quinta-feira, 28 de fevereiro de 2013

Entrevista e breve relato de parto de Letícia de Oliveira


Alice, uma boneca de tão linda!


 1-      Como soube das Doulas e porque se interessou em ter este acompanhamento? Já lia muito a respeito do trabalho das doulas há mais ou menos 2 anos antes de engravidar quando comecei a pensar no assunto. No começo, até entender o que realmente era parto humanizado, nem cogitava ter uma, mas a medida que fui me informando, percebi que queria um parto com o acompanhamento de uma doula.

2-      Como escolheu a sua doula? Queria uma doula que morasse próximo a minha casa. Encontrei minha doula no facebook e a conheci num encontro sobre parto.

3-      Como foi ter uma doula no parto? Essencial. Me senti amparada emocionalmente e segura por ter alguém com bastante conhecimento sobre parto.

4-      Por quê decidiu ter um parto normal/ natural? Por que quis ser respeitada, não quis sofrer nenhum trauma no momento que seria o mais inesquecível da minha vida.

5-      Como foi o trabalho de parto e nascimento? Se pudesse voltar atrás,faria algo diferente? Foi longo, tranqüilo e respeitoso. Talvez se pudesse voltar atrás teria ficado mais um tempo em casa antes de ir ao hospital mas, principalmente, teria tentado DORMIR e descansar no início do trabalho de parto.

6-      Se tiver outro filho, pretende parir de novo e ter uma doula ao seu lado? CERTAMENTE.

7-      Como esta se sentindo depois da experiencia de parir, como esta a recuperação pós parto? Após o nascimento me senti como se nunca tivesse parido. Uma sensação maravilhosa. O pós parto foi ótimo no aspecto físico, emocionalmente nem tanto, tive alguns problemas  que interferiram no meu bem-estar.

8-      E os cuidados com o bebê e a amamentação estão seguindo bem? Tive bastante problemas com amamentação justamente por situações de stress que enfrentei referente ao meu trabalho. Amamentei exclusivamente no peito somente 25 dias. Não tinha leite.

9-      Sua experiencia com o parto foi positiva? Sim

10-  Você ficou satisfeita com o trabalho da doula? Sim

11-  Conte em algumas linhas como foi seu parto e ver seu bebe pela primeira vez. Se quiser deixe uma dica para as futuras mães.
Meu parto foi como sonhei, com uma médica excelente e humanizada, uma doula muito dedicada e um marido companheiro.
Um trabalho de parto intenso e cansativo, mas completamente transformador.
Um expulsivo calmo, demorado e que me trouxe uma nova vida.
Claro que aprendemos muito numa primeira experiência e para um próximo parto, sonho mais alto.

Um conselho a quem sonhar com um parto humanizado, busque, informe-se e não aceite os “nãos” que aparecerem. Vale a pena cada sacrifício e renúncia.


quarta-feira, 27 de fevereiro de 2013

5 PERGUNTINHAS PARA SABER SE SEU MÉDICO É “CESARISTA”

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Por Ana Cristina Duarte, parteira e Dr. Jorge Kuhn, médico obstetra.
Alguns médicos se fazem de bonzinhos e dizem que “fazem parto normal” para atrair clientes aos seus consultórios, quando na verdade eles só “assistem” partos normais de mulheres que chegam no hospital no expulsivo!
Primeiro que quem faz o parto não é o médico é a mulher, se o médico diz que “faz normal” sinal de que será cesárea na certa. =/
Depois, a grande maioria desses médicos atende por convênio é quer garantir o máximo de retorno das seguradoras então nem se preocupam com suas pacientes.
Se você pretende de fato ter um parto normal, sem riscos desnecessários para o seu bebê, seguem 5 perguntinhas básicas para verificar se o seu obstetra tá na mesma sintonia que você:

1) Doutor, quais as chances de eu ter um parto normal?

Resposta certa: 90%, pelo menos;
Resposta errada: ainda não dá pra saber, depende de como o parto vai caminhando, porque se der algum problema, não posso deixar você e seu filho morrerem, a gente só sabe na hora mesmo…

2) Doutor, quanto tempo dá pra esperar depois da bolsa romper?

Resposta certa: até 96 horas (4 dias), de acordo com o protocolo inglês, ou até 24 horas de acordo com os protolos mais conservadores, desde que o seu bebê esteja bem. Talvez a gente tenha que administrar um antibiótico se depois de 6 horas de bolsa rompida você não tiver entrado em trabalho de parto. E se você não entrar em trabalho de parto espontaneamente após esse prazo, a gente tem que induzir.
Resposta errada: 4 horas, 6 horas no máximo, senão o bebê pode pegar uma infecção mortal!!! E nem adianta induzir. Não nasceu em 6 horas, não nasce mais, pode fazer cesárea!

3) Doutor, a anestesia não dá problema no parto?

Resposta certa: ela pode atrasar um pouco o parto e aumentar a chance do uso de fórceps. Eu prefiro que a gente deixe a decisão para o mais tarde possível. E se o parto puder ser sem anestesia, melhor ainda!
Resposta errada: não! Hoje em dia a anestesia é super segura, feita bem embaixo para você poder ter todas as sensações, mas não sentir a dor. Eu mesmo só faço parto normal com anestesia, porque não gosto de ver paciente minha sofrendo…

4) Doutor, e se passar de 40 semanas?

Resposta certa: a gente vai esperando e monitorando o bem-estar do bebê, pois nunca aconteceu de um bebê ficar na barriga até a infância. Uma hora tem que nascer. Se a gente vê que lá dentro não está tão seguro, então a gente induz (estimula as contrações uterinas). Mas isso dificilmente acontece antes de entrar na 42ª semana.
Resposta errada: a gente induz quando completar 40 semanas, porque depois disso o bebê pode morrer dentro da sua barriga… ou pior… bom, senão entrou em trabalho de parto até 40 semanas, é porque não vai mais entrar. Tem que ser por cesárea mesmo.

5) Doutor, a cesárea é arriscada?

Resposta certa: veja bem, a cesárea é uma cirurgia e tem os riscos de uma cirurgia. O parto vaginal não corta seu abdômen, não há grandes perdas sangüíneas, é um processo fisiológico e de rápida recuperação. A cesárea é uma cirurgia cada vez mais segura, mas ainda assim traz 4 vezes maior taxa de mortalidade do que um parto normal.
Resposta errada: não, hoje em dia a cesárea está superdesenvolvida e quando acontece alguma coisa é muito simples corrigir. E geralmente essas histórias que a gente ouve de cesáreas que deram problema, foi por imperícia de alguém. Eu mesmo nunca tive um problema mais sério fazendo cesárea. Mesmo as hemorragias, choques e convulsões foram resolvidos com alguns procedimentos.
Agora é com você!
Retirado daqui

quinta-feira, 21 de fevereiro de 2013

A confusão de bicos: porque a mamadeira não deve ser utilizada

Compartilhando um texto muito bacana sobre confusão de bicos do site Acalmma. Este texto foi escrito pela fonoaudióloga Cristiane Gomes. Acompanhem o texto, reflitam ...


É de conhecimento geral que o aleitamento materno é a estratégia que, isoladamente, possui a capacidade de evitar morbimortalidade infantil, especialmente pelas substâncias presentes no leite que favorecem a saúde geral, pelo contato entre mãe e bebê que permitem o estabelecimento e manutenção dos vínculos afetivos, pela capacidade do leite materno promover adequado crescimento e desenvolvimento da criança, dentre muitas outras vantagens.
Também é de conhecimento geral que a mãe deve amamentar seu bebê exclusivamente por 6 meses e com alimentação complementar por 2 anos ou mais e que é desaconselhável o uso de bicos artificiais, no entanto, este último tema não tem sido esclarecido à população e o uso de bicos é uma realidade impactante nos índices de aleitamento materno em nosso país, especialmente no sul do Brasil.
É importante salientar que, em geral, as gestantes já recebem mamadeiras como presentes nos chás de bebê, “no caso de haver necessidade”. Parece um ato inocente e de apoio, porém com terrível possibilidade de favorecer o desmame precoce.
Apesar do Ministério da Saúde desaconselhar o uso de bicos artificiais e o nono passo da Iniciativa Hospital Amigo da Criança indicar que não se deve oferecer bicos artificiais a crianças amamentadas, a cultura da mamadeira está arraigada e, mesmo com as ações de proteção ao aleitamento materno, especialmente por meio da NBCAL, ainda há uma falsa sensação de que os bicos artificiais são inofensivos.
Na realidade, o uso concomitante de bicos artificiais e aleitamento materno pode causar a chamada “confusão de bicos”, termo utilizado inicialmente por Neifert, Lawrence e Seacat (1995). A partir do momento em que o bebê recebe alimentação por meio de bicos artificiais, a ação das estruturas orais se modifica de tal forma que, ao retornar ao aleitamento materno, não haja condições de realizar a ordenha da mama, visto que tais estruturas sofreram mudanças de tônus, mobilidade e função.
O que decorre dessa disfunção motora oral é uma sequência de situações que, cedo ou tarde, levarão ao desmame: bebê não se alimenta o suficiente, chora, a mãe oferece complemento, por não haver estimulo mamário para a produção de leite há uma redução de seu volume, o que se torna um ciclo vicioso que termina por favorecer a alimentação exclusiva por mamadeira.
Para explicar melhor as diferenças estruturais, de tônus muscular e de função oral apresento o quadro abaixo, que mostra as diferenças básicas entre a sucção no aleitamento materno e na mamadeira:

ALEITAMENTO MATERNO

MAMADEIRA
- o peito da mãe se conforma à boca do bebê, o que nenhum outro tipo de bico permite;a boca do bebê tem que se adaptar ao bico, o que afeta a posição da língua, lábios e céu da boca;
- a língua do bebê consegue vir para fora para pegar o leite e leva-lo ao fundo da boca para a criança engolir;- Em todos os bicos, (comum ou ortodôntico) a língua do bebê vai para trás porque é empurrada pelo bico, que é rígido, e isso muda a sucção do bebê;
- o bebê faz quatro movimentos com a mandíbula (queixo): para baixo (abertura), para frente (protrusão), para baixo (fechamento) e para trás (retrusão). Esses quatro movimentos são importantes para o crescimento da face e para dar espaço na arcada dentária para o nascimento e alinhamento dos dentes;- o bebê faz apenas dois movimentos com o queixo: para baixo (abertura) e para cima (fechamento). Com apenas esses dois movimentos, o crescimento da face será direcionado para a vertical e o crescimento horizontal ficará prejudicado;
- o bebê faz pressão positiva, chamada de ordenha, ou seja, a mandíbula (queixo) massageia o peito e o leite é coletado pela língua.;- o bebê sempre faz pressão negativa (formam-se furinhos na bochecha) e isso faz com que haja uma alteração no crescimento da face, arcadas dentárias e consequente alinhamento dos dentes;
- o bebê exercita os músculos que serão responsáveis pela futura mastigação (masseteres, temporais e pterigoideos);- o bebê não exercita os músculos que serão responsáveis pela futura mastigação, mas exercita o músculo da bochecha (bucinador), que não deve ser tão exercitado e poderá provocar problemas no alinhamento dos dentes;
- os músculos da mastigação são exercitados e permitem com que o céu da boca se desenvolva corretamente, ou seja, que fique mais horizontal, favorece a respiração pelo nariz e o fechamento dos lábios;- o músculo da bochecha fará uma pressão sobre o céu da boca, que com o tempo se tornará mais alto. Esse formato mais alto dificultará a respiração pelo nariz e o fechamento dos lábios e favorece a respiração pela boca, que traz inúmeros prejuízos para a criança.

Com a leitura atenta do quadro acima, pode-se concluir que não existe compatibilidade entre o aleitamento materno e o uso da mamadeira, pois a forma de sucção é totalmente diferente.
Para evitar os problemas decorrentes dessa confusão de bicos (desmame, alterações motoras orais, alterações ortodônticas, desvios do crescimento ósseo facial, alterações de tonicidade, mobilidade e funções orais, com possibilidade de desenvolvimento de respiração oral, deglutição atípica, alterações de fala e mastigação, entre outras, as mães devem ser encorajadas, apoiadas e incentivadas a manter o aleitamento materno exclusivo até seis meses, iniciar a alimentação complementar aos 6 meses com mudanças graduais de consistências e dar continuidade ao aleitamento materno até 2 anos ou mais, não oferecer mamadeiras ou chupetas e, se houver necessidade de complementação, dar preferência à utilização do copo como método alternativo e temporário.
 Dra. Cristiane Gomes
Fonoaudióloga
CRFa 7771
 Especialista em Motricidade Orofacial (CFFa)
Mestre em Educação (UNESP – Marília)
Doutora em Pediatria (UNESP – Botucatu)
Pós-Doutorado em Saúde Coletiva (UEL – Londrina)
Docente do Centro Universitário de Maringá (CESUMAR)

quarta-feira, 6 de fevereiro de 2013

Parto Domiciliar Planejado: algumas coisas que talvez você não saiba - por Ana Cristina Duarte

ANA CRISTINA DUARTE, OBSTETRIZ PELA USP E INSTRUTORA EM CAPACITAÇÃO DE DOULAS, É COORDENADORA DO GRUPO DE APOIO À MATERNIDADE ATIVA (GAMA).

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Vejo muita gente dando palpite sobre parto domiciliar, especialmente profissionais de saúde, onde demonstram claramente que não fazem a menor ideia do que estão falando. Ouviram um pássaro cantar e já vão falando que é o Galo da Serra, sem nunca terem nem ouvido esse canto, muito menos visto a espécie. Achei por bem enumerar alguns fatos sobre o parto domiciliar planejado (PDP) que podem derrubar alguns mitos.


1) Qual gestante pode ter um PDP?
Gestantes saudáveis, com pré natal sem intercorrências, com um bebê único, posicionado, com mais de 37 semanas, com trabalho de parto espontâneo (não induzido)

2) Até onde vai o PDP? Ou até quando a gestante não pode mais mudar de ideia?
Vai até onde estiver seguro e sem intercorrência ou sem suspeita de possível intercorrência. Batimentos cardíacos fetais normais, mãe em boas condições. A qualquer sinal de possível intercorrência, a opção de retaguarda será acionada e o parto passa a ser hospitalar. A gestante pode mudar de ideia a qualquer momento e ir para o hospital para analgesia ou o que mais quiser.

3) Como se sabe que está tudo bem?
Através dos controles periódicos dos batimentos cardíacos do bebê e dos sinais vitais maternos, o que ocorre durante todo o trabalho de parto.

4) Como esteriliza a casa ou o quarto para o parto?
Isso não existe, nem no hospital, nem em casa. O que se faz no hospital é a limpeza da sala entre um parto e outro com materiais de limpeza, mas a única coisa que é esterilizada no hospital é o que entra em contato com o parto em sim, com as cavidades, cortes, etc. Em casa é a mesma coisa, o que for entrar em contato com "aberturas corporais" estará esterilizado. A questão que preocupa na contaminação hospitalar é o contato da gestante com virus e bactérias que causam doenças e que sempre estão presentes em ambientes hospitalares. Em casa essas bactérias não existem, não houve cirurgias anteriores, tratamento de doentes, nada disso. 

5) Mas e o pós-parto? Como fica a bagunça do parto? Quem cuida do bebê?
Após parto a equipe limpa toda a casa e elimina todos os vestígios do atendimento, materiais com sangue, restos, etc.. Com relação ao bebê, assim como no hospital, após ser examinado e vestido, ele fica sob cuidados dos pais em alojamento conjunto, o mesmo ocorre em casa. Os profissionais farão as visitas pós-parto e estão de prontidão para uma visita imediata durante toda a semana posterior ao parto.

6) Quem é o profissional que atende esses PDP?
Enfermeiras obstetras, obstetrizes e médicos podem atender esses partos. Doulas não podem atender partos, elas podem dar assistência emocional, apoio, mas não atendem os partos. As equipes são compostas pelo menos de um profissional desses anterioremente citados, podendo chegar a três profissionais, sendo que todos são capacitados para o atendimento de emergências obstétricas e reanimação neonatal

7) Quais procedimentos podem ser feitos num PDP?
Nenhum procedimento. Para acelerar, induzir, usar fórceps, etc, a gestante é levada ao hospital.

8) O que esses médicos/enfermeiras/obstetrizes levam para o atendimento em casa?
Todo o material estéril (agulhas, seringas, campo estéril para sutura, agulha de sutura, anestésico local, material de sutura, luvas, antisséptico, etc).
Todo o material de reanimação neonatal (tapete aquecido, ambu, máscara, cilindro de oxigênio, material de aspiração, material de transferência, etc).
Todo o material para emergência pós-parto materna (soro, material de punção venosa, drogas anti-hemorrágicas, etc).

9) Tem ambulância na porta?
Não, nenhum país que tem atendimento de parto domiciliar tem ambulância na porta. Essa é apenas mais uma lenda urbana sobre parto em casa.

10) E se acontecer alguma coisa?
Vamos separar o que seria esse "alguma coisa", para facilitar.

a) Com o bebê: se precisar de reanimação, reanima-se em casa, como numa sala de parto qualquer, com ventilação positiva. São as mesmas técnicas e materiais. Mas e se for tão grave que precisar adrenalina? Bebês saudáveis, de pré natal saudável, em partos naturais de termo sem intervenção não necessitam adrenalina. Olhe retrospectivamente para todos os casos de adrenalina e você verá que eram partos prematuros, ou bebês doentes, ou partos absurdamente medicalizados. Se ele tiver alguma malformação inesperada e grave, ele será mantido sob ventilação e transferido para um hospital com UTI neonatal, tal qual se faz em qualquer hospital ou cidade onde não existe UTI neonatal.

b) Com o parto: se for parto pélvico de surpresa, deixa-se nascer com as técnicas normais de parto pélvico; se for distócia de ombros, resolve-se igualmente com as mesmas manobras hospitalares; se precisa de fórceps é porque já era um parto complicado, transfere-se ao longo do parto; se os batimentos não forem bons, transfere-se; se houver mecônio em baixa quantidade e batimentos normais, aguarda-se o parto; se houver muito mecônio ou batimentos anormais, transfere-se.

c) No pós parto: se houver hemorragia, corrige-se com ocitocina, ergotrate e reposição de líquido; placenta retida, transfere-se para remoção no hospital; atonia uterina não é uma entidade de partos normais sem medicalização, mas em tese tranfere-se também. Se houver laceração, os três profissionais têm autorização, técnica e material para suturar sob anestesia local em casa.

11) E dá tempo de resolver?
Os estudos internacionais sobre PDP com equipe experiente mostram que o risco de mortalidade/morbidade não muda em casa ou no hospital e que o PDP é uma opção segura para gestantes de baixo risco. Isso não quer dizer que nada pode acontecer. Mesmo em países com baixíssima taxa de mortalidade, cerca de 1 a cada 500 bebês não viverá fora do útero. E isso poderá acontecer em casa, no hospital, no Brasil, na Dinamarca, nos Estados Unidos.

12) Mas estar no hospital não faz tudo ser bem mais rápido?
Na prática e em geral não. Tirando raras exceções, uma cesariana "de emergência" vai ocorrer num prazo aproximado de 30 minutos, às vezes até 1 hora, às vezes mais. A maioria dos hospitais brasileiros não possui anestesista de plantão, ou não há um disponível e livre o dia todo, nem mesmo uma sala de cesariana pronta e reservada. A idéia de que o hospital é um lugar onde tudo está pronto e disponível é irreal e mora mais no imaginário popular do que no bloco cirúrgico.

Mais informações sobre PDP:


domingo, 3 de fevereiro de 2013

Notícia: Doula a quem doer - Apesar da resistência de hospitais, as acompanhantes de parto têm papel fundamental


Compartilhando notícia do Estadão de São Paulo. Texto escrito pela obstetriz Ana Cristina Duarte
Ana Cristina Duarte
Quando em 2001 o primeiro curso de formação de doulas teve lugar no Brasil, por iniciativa de um médico obstetra, ninguém poderia imaginar a importância que essas profissionais teriam num futuro tão próximo. Naquela época raras pessoas sabiam o que era uma doula e sua função. Apesar de ainda hoje se fazer muita confusão, muita gente já conhece as funções a elas atribuídas, sua importância e seu papel no cenário da assistência ao parto.
A doula Maíra Duarte ajuda a mãe Alcione Agnes uma hora após o nascimento de Giulia - www.carlaraiter.com
www.carlaraiter.com
A doula Maíra Duarte ajuda a mãe Alcione Agnes uma hora após o nascimento de Giulia
Doulas são mulheres treinadas para dar suporte durante o parto. Embora elas não possam executar a parte técnica da assistência, têm papel importante durante o processo, o que faz a maior diferença nos resultados. Em outras palavras, pensando num mesmo público, mesma maternidade, mesma equipe de médicos e enfermeiras, são as mulheres acompanhadas por doulas as que serão mais beneficiadas. Os estudos mostram redução de 20% nas taxas de cesariana e de 30% nos nascimentos de bebê com baixa nota nos primeiros minutos de vida, para citar alguns parâmetros, tudo isso sem nenhum efeito deletério.
Os dois modelos de atuação são as doulas do setor privado, remuneradas por seu trabalho de atendimento a clientes que as contratam, e as doulas voluntárias, que trabalham no sistema público sem conhecer anteriormente as gestantes que vão atender. Nos países do primeiro mundo, como Estados Unidos por exemplo, as doulas já estão ativas na assistência há mais de 30 anos.
No Brasil existem entre 2 mil e 4 mil doulas atuantes entre os dois setores, embora não haja um número oficial ou um cadastro único. Neste 31 de janeiro, o Ministério do Trabalho lançou a nova versão da Classificação Brasileira de Ocupações onde figura, pela primeira vez, a ocupação de doula. Não existe uma profissionalização oficial, tal qual ocorre em outras ocupações em que não há execução de procedimentos de risco para a população. Tal qual fotógrafos e cinegrafistas que adentram o recinto do parto, as doulas não executam procedimentos médicos ou de enfermagem, não oferecendo, portanto, riscos à população. As funções básicas da doula são: acompanhar, acalmar, oferecer suporte emocional e físico, realizar massagem localizada, sugerir movimentos, respirações, atitudes, enfim, uma miríade de ferramentas que ajudam a mulher a atravessar o intenso processo que é dar à luz um bebê.
Uma grande polêmica ocorreu essa semana quando dois grandes hospitais privados da capital paulista proibiram a presença de doulas nos partos, alegando risco de infecção, e recuaram após imensa repercussão na mídia e nas redes sociais. A questão, no entanto, passa longe dos alegados riscos.
Estamos falando de relações de poder, de interesses econômicos, de falta de gerenciamento do setor privado.
Uma boa parte dos hospitais privados do Brasil apresenta taxas de cesarianas superiores a 90%. As cesarianas marcadas são o pilar de sustentação financeira das maternidades privadas. Partos normais, apesar de mais seguros, causam prejuízo, ocupam imprevisivelmente o leito por muito tempo, dão trabalho à enfermagem, não têm hora para ocorrer e não podem ser controlados. Doulas, acompanhando mulheres em trabalho de parto que querem muito um parto natural, perturbam a ordem natural de um centro cirúrgico estruturado para cesarianas pré-agendadas. Doulas pedem água, alimentos e explicações. Mulheres acompanhadas de doulas desobedecem às regras da instituição, questionam, desafiam. Pais acompanhados de doulas são mais protetores e questionadores. Doulas incomodam, partos normais incomodam.
Enquanto todos os setores do nosso país não assumirem que as mulheres estão sendo roubadas em seus partos, tanto no setor privado, com suas cesarianas agendadas, quanto no setor público, com seus partos altamente medicalizados e violentos, não poderemos avançar de fato nas crises profissionais. O problema não são as doulas e sua regulamentação. O problema não são as alegadas infecções provocadas pela presença de mais um acompanhante. Estamos falando de um processo de violência coletiva que vem se perpetuando há décadas em nosso país, sob os olhos semicerrados do governo, da Agência Nacional de Saúde Suplementar, do Ministério da Saúde, das secretarias.
Se nem a Lei do Acompanhante é obedecida em mais da metade das instituições paulistas, o que se dirá de uma iniciativa que deve ser tomada de livre e espontânea vontade pelas instituições para melhorar a assistência às mulheres que desejam um parto suave, prazeroso, positivo, acolhedor? Ainda temos um longo caminho a percorrer, e as doulas continuarão a ter um papel fundamental nesse processo.
ANA CRISTINA DUARTE, OBSTETRIZ PELA USP E INSTRUTORA EM CAPACITAÇÃO DE DOULAS, É COORDENADORA DO GRUPO DE APOIO À MATERNIDADE ATIVA (GAMA) E AUTORA DE PARTO NORMAL OU CESÁREA? O QUE TODA MULHER DEVE SABER - E TODO HOMEM TAMBÉM (UNESP) 
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