sábado, 31 de dezembro de 2011

Analgesia Epidural - por Priscila Rezende Doula




Em sua caminhada para o parto normal, as mulheres sabem que podem contar com a analgesia no momento em que a dor das contrações do útero no parto se tornarem insuportaveis. Quando o cansaço ocasionado por horas e mais horas de trabalho de parto as impede de ter uma experiência de parto tranquila ou mesmo passa torna a cesariana uma opção, a analgesia se torna uma grande aliada, evitando uma intervenção cirúrgica.
Eu costumo dizer que analgesia de parto boa mesmo é a presença da doula, que vai sempre te encorajar e te avisar quando o momento da expulsão do bebê estiver finalmente se aproximando, para que a parturiente não se submeta à analgesia nos minutos finais. Além disso, eu acredito que a presença de um acompanhante conhecido na hora do parto ajude a mulher a se sentir mais confortável e, consequentemente, a sentir menos dor. A presença do amor nesse momento é uma ótima analgesia: abraçar e beijar o marido, além de tornar as contrações eficazes por conta da liberação de altas doses de ocitocina natural, afasta a adrenalina, o hormônio do estresse. Fatores como o ambiente hospitalar, ar condicionado, luzes ofuscantes, exames de toque excessivos fazem com que a mulher entre no ciclo de tensão-medo-dor, portanto, precisamos de alguém do nosso lado para nos trazer de volta ao clima de harmonia, ajuda a nos concentarmos e relaxarmos.
E se, mesmo com tudo isso, eu precisar de analgesia?
Saiba que ela não é livre de riscos para você e para o seu bebê! Encontrei essa lista de vantagens e desvantagens em um site americano, vou traduzir para vocês:

Quais são as vantagens da anestesia epidural?

·                     Permite descansar se o trabalho de parto é prolongado
·                     Aliviar o desconforto do parto pode ajudar algumas mulheres a terem uma experiência de parto mais positiva
·                     Quando a epidural é administrada de forma correta, ela permite que você permaneça alerta e continue participando ativamente do nascimento do seu filho
·                     Se você precisar de uma cesariana, a epidural te permite ficar acordada e também te proporciona um alívio efetivo da dor durante a recuperação
·                     Quando todos os outros métodos de alívio da dor não estão ajudando mais, a epidural pode ser o que você precisa para continuar trabalhando o seu parto apesar da exaustão, irritabilidade e fadiga. A epidural te permite descansar, relaxar, se concentrar e te dá forças para seguir em frente como um participante ativo da sua experiência de parto
·                     O uso da anestesia epidural durante o parto está sendo continuamente aperfeiçoado e muito do seu sucesso depende do cuidado com que é administrado.

Quais são as desvantagens da anestesia peridural?

·                     A analgesia epidural pode fazer com que sua pressão arteria caia de repente. Por esta razão, a sua pressão arterial será verificada rotineiramente para se certificar de que há fluxo de sangue adequado para o seu bebê. Se isso acontecer, talvez você tenha que ser tratada com fluídos intravenosos, medicamentos e oxigênio
·                     Você pode ter uma dor de cabeça severa causada por vazamento de fluído espinhal. Menos de 1% das mulheres sofrem esse efeito colateral do uso da epidural. Se os sintomas persistirem, o tratamento é feito com uma injeção de sangue no espaço peridural, que alivia a dor de cabeça.
·                     Depois que analgesia é aplicada, você terá que se deitar alternadamente de um lado e do outro e ter monitoramente contínuo para verificar os baticamentos cardíacos do seu bebê. ficar deitada em uma posição pode desacelerar o trabalho de parto ou até mesmo pará-lo.
·                     Você pode ter os seguintes efeitos colaterais: tremores, zumbidos nos ouvidos, dores na lombar, dor onde a agulha é inserida, nauseas ou dificuldade pra urinar
·                     Com a epidural, você pode não sentir os puxos involuntários, e aí terá que fazer força sendo dirigida pelo médico para conseguir expulsar o bebê, caso você tenha essa dificuldade, o médico provavelmente terá que administrar ocitocina sintética, usar o fórceps ou vácuo extrator e até mesmo ter que realizar uma cesariana
·                     Durante algumas horas após o parto, você poderá sentir a parte inferior do corpo dormente e não poderá andar sem ajuda
·                     Em casos raros, poderá ter danos permanentes no nervo onde o catéter foi introduzido
·                     A maioria dos estudos sugere que os bebês terão dificuldades com amamentação e outros estudos sugerem que o bebê pode sofrer de depressão respiratório, ficar mal posicionado e ter sua frequencia cardíaca variando e tudo isso, como dito anteriormente, culmina na necessidade do uso de fórceps, vácuo extrator, cesariana e episiotomia.

Muitas mulheres que não têm o acompanhamento de uma doula acabam pedindo analgesia no momento em que acreditam não aguentar mais e, coincidentemente, esse é o momento em que o bebê está quase nascendo, é uma situação muito comum a parturiente ter a analgesia aplicada e parir alguns minutos depois e acabar perdendo a oportunidade de passar pela experiência de sentir o bebê passando pelo canal de parto, o bebê coroando e sentir o famoso círculo de fogo. Eu costumo perguntar para as mães que eu conheço ou acompanho o que doeu mais: a passagem do bebê ou as contrações do trabalho de parto e elas sempre respondem que a dor que elas sentiram na passagem do bebê foi muito menor do que as dores das contrações que aconteceram antes.
Eu acredito que, quando a gente opta pelo parto normal, estamos tomando para nós o parto, nós é que determinaremos o ritmo, trabalhando junto com o bebê e com o nosso corpo e, quando optamos pela analgesia, o ritmo muda e pode ter que ser ditado apenas pelo médico, se ele for um profissional treinado para acompanhar os partos de forma humanizada, isso poderá não ser desrespeitoso, mas sabemos que esses profissionais compõe a minoria.
  

FELIZ 2012!!!!

Lindo vídeo com mensagem de fim de ano!!! Desejo a todos os meus leitores muito Paz, Amor e Saúde!!

quinta-feira, 29 de dezembro de 2011

“O FILHO É O REFLEXO DA SOMBRA DA MÃE”.


google imagem


Durante os primeiros dois anos de vida, os bebês refletem as emoções e os sentimentos inconscientes de suas mães.

         Um tempo de revelações, de experiências místicas, uma oportunidade para o auto conhecimento, para mergulhar nos aspectos ocultos da psique feminina. Um tempo em que as luzes e sombras emergem e explodem como um vulcão em erupção. É a loucura indefectível e um “não reconhecer-se” a si mesma, porque, desde o momento do parto, a alma da mulher se desdobra e se torna mamãe-bebê, bebê-mamãe ao mesmo tempo.
         Isso é também a maternidade, segundo a inovadora e certamente polêmica visão da psicoterapeuta familiar argentina, especializada em crianças,Laura Gutman, autora do livro “A maternidade e o encontro com a própria sombra”.
Seu livro, longe de pretender ser um guia para mães desesperadas, é um convite para que as mulheres repensem as idéias preconcebidas, os preconceitos e os autoritarismos, encarnados em opiniões discutíveis sobre o parto, os cuidados com os bebês, a educação, as formas de vincular-se e a comunicação entre adultos e crianças.

Entrevista VERÓNICA PODESTÁ

         Social e culturalmente, a idéia que se apresenta às mães sobre a chegada de um novo ser é de um fato ideal, feliz e luminoso. È necessária certa audácia para encarar o tema a partir de um “encontro com a própria sombra”. A que você se refere exatamente?

         É claro que a sociedade ou o inconsciente coletivo tentem colocar a maternidade num leito de rosas. Quanto mais uma mamãe “compre” esta visão unilateral, mais impactante e mais brutal resultará para ela o encontro com os lugares obscuros que aparecem depois do parto e no puerpério. Eu encaro a maternidade como uma crise, como um rompimento que se produz no parto e nessa quebra se colam partes da sombra, ou seja, pedacinhos de alma ocultos ou desconhecidos até então, que se manifestam através do bebê. Ele se converte em espelho cristalino dos aspectos mais ocultos da mãe, de sua sombra. Por isso, o contato profundo com um bebê é uma grande oportunidade que se deve aproveitar ao máximo.

         De que maneira a sombra da mãe se manifesta através do bebê?

         Quando um bebê nasce se produz a separação física, mas este corpo recém nascido não é só matéria, mas também um corpo sutil, emocional, espiritual. Ainda que a separação física efetivamente se produza, bebê e mãe seguem fusionados no mundo emocional. O bebê se constitui no sistema de representação da alma da mãe. Tudo o que a mãe sente, recorda, o que a preocupa, o que rechaça, o bebê o vive como sendo próprio. Porque nestes sentido e momento são dois seres em um. Então a mãe atravessa esse período desdobrada no campo emocional, já que sua alma se manifesta tanto em seu próprio corpo como no corpo do bebê. E o mais incrível é que o bebê sente como próprio tudo o que sente a sua mãe, sobretudo o que ela não pode reconhecer, o que não reside em sua consciência, o que foi relegado à sombra. Então, se um bebê adoece ou chora desmedidamente, ou se está alterado, além de fazermos perguntas no plano físico será necessário atender o corpo espiritual da mãe, reconhecendo que a enfermidade da criança manifesta uma parte da sombra da mãe.

         E como a mãe pode canalizar esta manifestação do bebê para seu próprio crescimento?
         Se um bebê chora demasiadamente, se não é possível acalmá-lo nem amamentando-o nem aninhando-o, enfim, depois de cobrir as necessidades básicas, a pergunta seria: Porque chora tanto a sua mamãe? Se o bebê não se conecta, parece deprimido, quais são os pensamentos que inundam a mente de sua mãe? Se um bebê rechaça o seio, quais são os motivos que pelos quais a mãe rechaça o bebê? As respostas residem no interior de cada mãe, ainda que não sejam evidentes. Para ali devemos dirigir nossa busca, na medida que a mulher tenha uma genuína intenção de encontrar-se consigo mesma.
         Este estado de fusão emocional dura dois anos, tempo em que a mãe experimenta estados alterados de consciência por viver desdobrada em vários campos emocionais. Esta é a loucura do puerpério.

         Por que dois anos? Comumente se fala do puerpério como um período que dura cerca de 40 dias.

         Se considera puerpério aos primeiros quarenta dias depois do parto, porque se toma como parâmetro a cicatrização da episiotomia, a interdição sexual ou moral, para que o homem não queira exigir genitalidade à mulher. Eu creio que é um fenômeno emocional. Enquanto dura a fusão emocional, dura o puerpério. Por volta dos dois anos a criança começa a separar-se emocionalmente de sua mãe. Até então era bebê-mamãe, um ser totalmente fusionado, que fala de si na terceira pessoa: “Matias quer água”. Aos dois anos começa a dizer “Eu quero água”. Quando se constrói como um ser separado, começa lentamente a separar-se emocionalmente.

         Como nasce sua teoria?

         Sinceramente, não sei quando nem como nasceu minha “teoria”, já que não a vivo como “teoria”, mas sim como uma prática constante. Basicamente através da observação de centenas de mães se relacionando com seus bebês. Foi muito revelador para mim, quando há cerca de 20 anos li o livro “A Enfermidade como Caminho”, de Dethlefssen e Dahlke, um médico e um astrólogo alemães, ambos junguianos. Comecei a investigar as teoria de Jung em relação à manifestação da sombra, e ao sentir que as crianças pequenas estavam tão involucradas dentro do campo emocional das mães, e vive versa, me ocorreu observar se o que manifestavam – e que eram muitas vezes incompreensíveis para as mães – poderia ser a expressão de situações emocionais que elas não poderiam reconhecer como próprias. É muito frequente que as mães não falem de si mesmas nas consultas, mas sim do que está acontecendo com seus filhos. E foi cada vez mais evidente para mim, que este “jogo” era permanente. Por exemplo, quando eu coordenava grupos de crianças e algum bebê estava muito inquieto, eu tentava induzir à mãe a um olhar interno, íntimo, até que “tocava” num ponto doloroso pessoal, de sua história primária. Mesmo que considerasse que o assunto estava “superado”, quando conseguia falar sobre o tema, o bebê automaticamente parava de chorar. E o grupo era testemunho desta “magia”. Mas não era nada mágico, era a mãe que se apropriava de uma parte de sua sombra, que o bebê estava, de outro modo, obrigado a manifestá-la. Aos poucos fui aprendendo a reconhecer mais rapidamente a linguagem dos bebês e crianças pequenas “fusionadas” ao campo emocional da mãe. Na realidade, o verdadeiro trabalho de busca quem o realiza é a mãe, o meu papel é só o de apoiar a busca genuína, porque cada indivíduo sabe profundamente o que lhe passa. Os bebês são seres sutis, por isso manifestam com total espontaneidade. Neste sentido são verdadeiros espelhos da alma.

         Em seu livro você faz uma distinção entre a dor como algo necessário e positivo para o crescimento, e o sofrimento, desnecessário de destrutivo. Que diferença há entre um e outro?

         Quando falo da diferença entre dor e sofrimento, me refiro ao parto em si mesmo. Hoje em dia quase todas as mulheres parem anestesiadas, em partos “induzidos” pela introdução de ocitonina sintética, para regular a duração e a intensidade das contrações. Em geral a mulher não é respeitada, não lhes permitem mover-se, caminhar, comer, ir ao banheiro; ela está atada à cadeira de parto que é terrivelmente incomoda, lhe acomete câimbras nas pernas, lhes rasgam, entram muitas pessoas, médicos e paramédicos, enquanto a mulher está com os genitais expostos, há pouca afetividade e nenhuma intimidade. O marido está atuando, fazendo de conta que é um bom pai moderno. É tanto sofrimento, que as mulheres, ao invés de pedirem contenção, abraços, calor, amor, silêncio, música, água, algo doce para a boca, suavidade... pedem aos gritos por anestesia. E recebem
         Se pudéssemos imaginar um parto acompanhado verdadeiramente, com liberdade de movimento, na data verdadeira (ainda que “se atrase”), em intimidade, com uma ou duas pessoas do círculo mais íntimo, a dor seria então o veículo para o recolhimento, para a introspecção, para sair do mundo das formas e entrar no mundo sem limites, sem palavras, sem luzes... é um momento de abertura de consciência. Assim a dor é suportável, é necessária, porque nos permite “sair” do mundo racional, e só fora do mundo racional se pode parir em liberdade. As mulheres que parimos verdadeiramente em liberdade, é que podemos contar o que é o paraíso.

         Não há modelos nem receitas sobre como ser mãe no Século XXI. Qual você crê que seja o maior desafio para as mulheres de hoje?

         É certo que na há modelos. O que podemos chamar tradicional, ou seja o que viveram nossas avós, se refere à dona de casa que criou filhos e criou o marido. Muitas delas foram escravas dos desejos dos demais. Hoje em dia, alguma mulheres estamos num pólo aparentemente longínquo, trabalhamos todo o dia, ganhamos dinheiro, as vezes somos bem sucedidas, criativas, independentes. Quando aparece o primeiro filho, na minha opinião, se temos construída toda a nossa identidade no que chamo energia Yang – aspectos concretos do trabalho, dinheiro, relações sociais, etc - isto que nos traz o bebê não tem nada a ver com o “normal”... e tendemos a fugir para os espaços conhecidos: desesperadas para voltar a trabalhar, a ser que éramos antes. Para mim isto também é falta de liberdade interior.
         É necessário revisar os acordos do casal anteriores ao nascimento do filho, quando somos capazes de apoiarmos-nos um ao outro e vive versa. Maternar é fundamentalmente conectar-se profundamente com a energia Yin, que é lenta, silenciosa, de tempos prolongados, redonda, quentinha, suave, interna, obscura, pegajosa... Navegar entre as duas energias é para mim um dos principais desafios para as mulheres modernas. Nem fugir do desconhecido, nem alheiarmo-nos do mundo, infantilmente como nossas avós. E saber que há outras pessoas ao redor para ocupar certos espaços por um tempo: o homem será a sustentação para que a mulher possa maternar. E se não há um homem maduro, haverá outras redes, família, amigos, grupos de apoio. Não se pode maternar sem sustentação. Não se pode maternar sem fusão emocional. Não se pode maternar sem buscar o próprio destino.


Disponibilizado aqui

quarta-feira, 28 de dezembro de 2011

Adultização Infantil

Adultização Infantil . Assistam este vídeo, A escritora Renata Penna do blog mamíferas.com fala sobre a adultização infantil!

Mães que criam os filhos sozinhas

Essa matéria do Guia do Bebê, é muito legal. Decidi publicar para homenagear as mães que por algum motivo se encontram sozinhas durante a gestação e na criação de seus filhos. Não sei o que é passar por isso, mas imagino como eu ficaria se passasse por... A vocês a minha admiração!!

Papel de mãe e papel de pai. Muitas vezes a mãe (ou o pai) tem que assumir as duas funções. As dúvidas, o medo, a insegurança e a solidão podem encontrar aí espaço para entrar, mas a coragem e o amor podem superar tudo isso. Vida de Mãe vai discutir questões como, por exemplo, a decisão de ter um filho sem a presença do pai, as dificuldades da criação sem partilha, a relação com o filho, a ausência do pai e o que fazer para não se anular.
Podemos nos encontrar sozinhas na criação dos nossos filhos por diversos motivos. Porque somos mães solteiras, divorciadas ou viúvas. A coluna conta a história de Vivian, que com apenas dezesseis anos ficou grávida do namorado e hoje é mãe solteira da linda Lavínia, de um ano e sete meses. Ela teve o apoio da família, mas outras adolescentes não têm a mesma sorte. A dor de não poder compartilhar a gestação, seja nas mães adolescentes ou maduras - que optam por levar adiante uma gravidez sem pai - é a mesma. Além da mãe solteira, vamos falar da mulher que se separa depois de uma vida matrimonial e tem que aprender a virar a página e equilibrar o cotidiano ao lado dos filhos, sem a presença paterna diária. E das mães viúvas, que não escolheram seguir criando os filhos sós, mas também têm que superar o sofrimento da perda e encarar a nova condição.
Caminhos distintos, casos diferentes, mas a responsabilidade dobrada que cai sobre todas é a mesma. Elas têm em comum a missão de sustentar e educar o filho, dar amor e responder perguntas, como: "Tenho pai?" "Onde ele está?" Um assunto que muitas vezes ela mesma quer esquecer.
Vivian conta aqui sobre a surpresa de engravidar aos dezesseis anos e a difícil decisão de ter o bebê. Hoje, aos dezenove, ela é mais madura que as garotas da sua idade. E não se arrepende.
Filho não planejado
"Eu era uma adolescente encantada pela vida e sempre tive muito amor de meus pais. Aos quatorze anos comecei a namorar. Tinha certeza que nos amávamos, embora tivéssemos um namoro cheio de idas e vindas. Depois de dois anos e meio juntos fiquei grávida de um filho não planejado. Aos dezesseis anos os adolescentes acham que estão imunes a tudo. Fiquei muito confusa, desesperada, perdi meu chão, como se meu amanhã não existisse mais. Mas nunca pensei em aborto. Eu e o pai da minha filha não estávamos bem, e quando veio a noticia da gravidez já estávamos separados, mas conversamos e decidimos ficar novamente juntos. Ele estava desempregado. Foi difícil aceitar a nova situação, mas desde o inicio tive o apoio incondicional da minha mãe. Passaram dois meses e ele estava cada vez mais distante, parecia que eu era uma obrigação. Decidi que só iria casar depois do nascimento do bebê, para me dedicar ao enxoval da criança primeiro. Ele conseguiu um emprego, entrou para a faculdade, mas não sobraria dinheiro. Disse que era um momento inoportuno e me acusou de não dar força aos sonhos dele. Parecia que não tinha noção que seríamos pais. Ele me abandonou grávida de três meses. Quando estava me acostumando com a idéia de ter um filho, tive que me acostumar com a idéia de ter um filho sem pai. Senti-me incapaz e extremamente sensível. Chorava e me lamentava sempre que via um homem acariciando a barriga da esposa ou um pai brincando com um filho".
Maternidade
"Minha mãe foi meu anjo da guarda. Aos quatro meses de gravidez ingressei na faculdade com bolsa integral, o que ajudou a manter minha cabeça ocupada. Percebi que tinha que reagir senão iria prejudicar também meu bebê, que dependia de mim e sentia todas as emoções que eu sentia. Vendi de tudo: chocolates, ovos de páscoa, bijuterias... Aos sete meses descobri que esperava uma menina e decidi que se chamaria Lavínia - que significa "A Purificada". E ela nasceu - o bebê mais lindo do mundo. Quando vi aqueles olhinhos me encarando... Aquela criança indefesa e dependente, que precisava de mim para tudo. Foi um momento mágico, único. Ali, na sala de parto, com minha mãe ao meu lado, tive certeza de que tudo valeu a pena. Acabara de nascer minha razão de viver... Depois de seis meses sem qualquer contato com o pai dela; liguei para ele do hospital e perguntei se a registraria. Ele foi ao hospital e deu-lhe seu nome (a única coisa que lhe deu). Foram dias e noites difíceis (quem é mãe sabe o trabalho que um bebê dá). Ficava horas ao lado do berço observando cada traço da minha filha. Ela era minha maior companhia e precisava de uma mãe forte e que valesse em dobro, e não de uma mãe triste e depressiva. Não interrompi minha faculdade e isso me fez muito bem. Lavínia foi crescendo e se tornando uma criança adorável, alegre e muito amada. Mas, como todo bebê, gerando muitos gastos - o que é difícil de levar sozinha. Coloquei o pai dela na justiça e foi estipulado o valor da pensão alimentícia. Agora, ao menos uma vez ao mês ele lembrará que é pai. Perdi a bolsa e tive que trancar a faculdade. Fiquei triste, mas percebi que estava na hora de ir à luta. Comecei a trabalhar; fiz amigos, me senti útil, e percebi que tinha tido uma filha, mas continuava sendo mulher".
Ausência do pai
"O pai dela já ficou até cinco meses sem dar um sinal de vida, nem uma ligação. Muitas vezes corri para o hospital com ela, na emergência, e ele nem ficou sabendo. Esse ano, por exemplo, passei a noite de meu aniversario com ela no hospital, mas nunca sozinha. Deus colocou na vida da minha filha vários pais que a amam e a socorrem sempre que preciso - todos os meus tios e primos são um pouco pais dela. Não há sinal de carinho da parte do pai. Eu me entristecia muito com o silencio dele, mas hoje penso que se ele aparecer bem, mas se não aparecer, não me decepciono mais. Lavínia é muito carinhosa e não suporta me ver triste. Me abraça e me beija; é uma criança cativante. Por outro lado, me questiono muito, pois sei que esta chegando à hora em que ela vai perguntar pelo pai. Já me desespero por antecipação. O que vou dizer a ela? Mas tenho certeza que na hora certa Deus vai me dar estrutura para não desaponta-lá".
Futuro
"Lavínia hoje tem um ano e sete meses e é a minha razão de viver. Mas acho que as mães solteiras acabam se anulando muito por causa dos filhos. Não saio sem ela, não vou à praia ou ao cinema, não namoro. Meus programas mudaram para parquinhos e brinquedos. Às vezes esqueço que tenho 19 anos. Mas não me arrependo, pois sei que nesse momento de criação e de formação de personalidade ela precisa muito da minha figura presente. Adoro curtir cada segundo ao lado de minha linda. Todo o meu sacrifício vale a pena quando vejo um sorriso sapeca em seu rosto, quando dançamos alegremente ouvindo uma musica, quando ela anda de "bi-bi", brinca com o "au-au", dá tchau para o "piu-piu" e diz "mamãe". São esses simples momentos com minha filha que me trazem prazer, inspiração, forças e esperança de um futuro melhor. Não temo o futuro, pelo contrario, o espero ansiosamente, pois sei que Deus nunca dá lutas que não possamos suportar, e foi Ele que me sustentou até hoje, e sei que agora só tenho frutos a colher. Sei que muitas noites em claro e choros ainda me esperam, mas também muitos sorrisos e alegrias. Tenho esperança em um futuro melhor para mim como mãe e como mulher e para minha princesa Lavínia."
Palavra do especialista:
Márcia Fraga Sampaio - psicóloga do Hospital Memorial Faud Chidid, no Rio de Janeiro, e coordenadora do Centro de Pesquisa e Clínica Psicanalítica Laços.
Para começar, a terapeuta lembra que existem diferenças entre uma mãe solteira e uma mãe separada ou viúva: "Na primeira ela fez uma escolha de ter o bebê ainda que sozinha. Nas outras se imagina que tenha havido um projeto a dois de ter esse bebê e compartilhar o bônus e ônus desse empreendimento, mas... a vida impôs uma mudança nesse projeto. A coragem e a determinação é o ponto em comum entre todas, pois em algum momento é preciso respirar fundo... e encarar as responsabilidades".
Para abordar o tema da forma mais abrangente possível, dividimos nossa conversa com a psicóloga, que analisou a importância do masculino e do feminino na vida de uma criança, as novas responsabilidades da mãe, como administrar o papel integral da criação e educação do filho e como administrar a ausência do pai. Tudo sem a mãe esquecer de si mesma.
Homem e mulher
"Um filho tem sempre um sentido diferente para a mulher do que para o homem. A realização de um filho é sempre maior para a mulher, até porque o "sonho de ser mãe" tem origem na fantasia infantil da menina de ter um bebê e isso é alimentado em seu psiquismo até a idade adulta e é reforçada pela cultura que enaltece a maternidade de forma romântica. Esse ponto fala mais alto na hora de assumir a responsabilidade de encarar uma gravidez sozinha. Para se ter um filho é preciso amadurecer e se tornar adulto definitivamente. Para o homem é mais fácil recuar, mas para a mulher mesmo pensar em desistir trará implicações para seu corpo e suas culpas. Para uma mulher decidir ter um filho, apesar de não poder contar com o pai, vai valer a pena ou não de acordo com o tamanho do seu desejo de ser mãe. É preciso coragem para assumir as responsabilidades sozinha ou mesmo contando apenas com alguma ajuda da família".
Bônus e ônus
"Para assumir o papel de mãe são exigidas algumas renuncias de tempo e de vaidade, entre outras. É importante não abrir mão de sua profissão, de seus interesses, e "tentar" administrar tudo isso, pois assim a mãe mostrará ao seu filho que na vida é preciso ter ideais, profissão, amigos... um novo amor... e é possível que ele em algum momento comece até a participar de tudo isso. Mas para cuidar de um bebê, até que ele ganhe esta autonomia e permita a mãe uma maior liberdade, há um percurso em que dedicação e disponibilidade são exigidas".
Produção independente
"Há mulheres que escolhem uma produção independente - diferente daquela que fica sozinha depois de estar grávida ou com um bebê. Se ela decide ter um filho dispensando a figura masculina pode ter em si a fantasia de ser uma mulher onipotente, a quem não falta nada e um companheiro não é necessário. É sempre melhor para a saúde psíquica de todos que esta fantasia seja frustrada e que seja sentida a falta de alguém do seu lado para dividir as preocupações e a educação de uma criança. É melhor para que a essa criança seja transmitida a idéia de que ninguém vive isolado, independente e onipotente".
Masculino e feminino
"A idéia de "ser pai e mãe" tem lá suas ressalvas Uma mãe que se ressente por não ter seu companheiro ao seu tem em seu projeto reconstruir sua vida. Existem o masculino e o feminino e, de alguma forma, se precisam mutuamente. Mesmo num casal homossexual tem sempre alguém que fala mais firme e alguém mais doce e acolhedor. Alguém mais decidido, objetivo e alguém mais preocupado com o afeto e mais disponível para a maternidade. A figura masculina e a figura feminina são importantes e é importante que se tenha essa referência. Para educar um filho muitas vezes será preciso falar mais grosso, não recuar diante de um castigo prometido e sustentar tudo isso sozinha não é fácil. Uma mãe sozinha vai precisar dar o carinho e também ser dura, mas é importante não alimentar a fantasia de ocupar esse lugar de macho e fêmea ao mesmo tempo. Isso é difícil e pouco saudável".
Cadê o pai?
"Todo mundo tem pai, e é preciso saber a historia do próprio pai. É uma pergunta sobre a sua própria origem. Se ele faleceu; de que faleceu? Se foi embora; para onde e por quê? Se não souber para onde ele foi, é melhor usar de sinceridade e falar sobre isso. Não permitir que seja um assunto tabu, um mistério que não possa ser conversado. No caso em que o pai se ausentou ou não quis assumir, é melhor dizer a verdade de alguma forma - mesmo que de forma cuidadosa, amenizada. A história de abandono e rejeição ao ser relatada para uma criança deve sempre ser suavizada, se depois de adulto a verdade vier à tona por outras fontes será menos cruel do que saber na infância. Se o pai tem características que não sejam dignas de orgulho, é importante não usar isso para jogar filho contra pai. É sempre importante respeitar a figura de um pai, mesmo com seus defeitos, pois dessa figura vai depender algumas características que essa criança poderá desenvolver. Os filhos podem desejar ser diferente do pai e da mãe, mas também podem querer ser parecidos... Até mesmo nos erros. Se um "defeito" do pai é ressaltado com veemência, o tiro pode acabar saindo pela culatra... E acabar incitando a criança a repetir sem perceber os mesmos equívocos desse pai tão depreciado pela mãe. Funciona mais ou menos como se ao ficar um pouco parecido com aquele que está ausente pudesse trazer de volta a sensação da sua presença. Isso acontece de forma inconsciente, não é proposital".
Saudade
"A saudade de um pai falecido é diferente da saudade de um pai que abandonou. O pai que foi embora não quis ficar perto do seu filho, o falecido foi levado contra sua própria vontade. A rejeição de um pai que quis ir embora é maior. Cabe lembrar que um pai divorciado não necessariamente é um pai ausente. Pois se houver uma relação no mínimo civilizada será possível recorrer a ele em muitas situações".
Caminhando
"Para lidar com tudo isso é importante que a mãe esteja de bem com sua própria história. Momentos de angustia são inevitáveis, mas se ela estiver certa, intimamente, dos motivos que a levaram as suas decisões fica mais fácil dar a volta por cima e seguir seu caminho. Responder a perguntas delicadas de um filho se torna menos difícil se ela estiver preparada para isso e tiver digerido bem os momentos difíceis vividos na separação".
Todas conhecemos casos diversos de mães que se encontram na difícil missão de criar os filhos sozinhas. Mas vale lembrar que, em alguns casos, é o homem que precisa assumir só as responsabilidades diante dos filhos e aí, são eles que têm que se adaptar e se superar diante da dupla função.
Até porque, nós sabemos, não é fácil ser mãe. 

Denise Domingos

Fonte

terça-feira, 27 de dezembro de 2011

Episiotomia - Dr. Melania Amorim



A revisão sistemática da Biblioteca Cochrane (Carroli e Belizan), atualizada pela última vez em 1999, inclui seis ensaios clínicos randomizados e um total de 4850, submetidas à episiotomia de rotina ou seletiva. No primeiro grupo, 73% receberam episiotomia, contra 28% no segundo grupo. Os autores concluíram que os benefícios da episitomia seletiva (indicada somente em situações especiais) são bem maiores que a prática da episiotomia de rotina.

Baseando-nos nesses resultados da revisão sistemática, bem como nas conclusões de diversos outros estudos randomizados desde então publicados, podemos afirmar que:

1) Não há diferença nos resultados perinatais nem redução da incidência de asfixia nos partos com ou sem episiotomia, ou seja: os bebês nascem muito bem sem episiotomia, e não há necessidade de realizá-la com esse intuito.
2) Não há proteção do assoalho pélvico materno: a episiotomia não protege contra incontinência urinária ou fecal, e tampouco contra o prolapso genital, associando-se com redução da força muscular do assoalho pélvico em relação aos casos de lacerações perineais espontâneas.
3) A perda sanguínea é mais volumosa (em torno de 800ml contra 500ml no parto vaginal espontâneo), utiliza-se uma maior quantidade de fios para sutura e há mais dor perineal quando se realiza episiotomia.
4) A episiotomia é per se uma laceração perineal de segundo grau, e quando ela não é realizada pode não ocorrer nenhuma laceração ou surgirem lacerações anteriores, de primeiro ou segundo grau, mas de melhor prognóstico.
5) A episiotomia não reduz o dano perineal, ao contrário, aumenta-o: nas episiotomias medianas é maior o risco de lacerações de terceiro ou quarto graus.
6) A episiotomia aumenta a chance de dor pós-parto e dispareunia.
7) A episiotomia pode cursar com complicações como edema, deiscência, infecção (até fasciíte necrosante) e hematoma.
A recomendação atual da Organização Mundial de Saúde não é de proibir a episiotomia, mas de restringir seu uso, porque em alguns casos ela pode ser necessária. Não está muito claro em que situações a episiotomia é, de fato, imprescindível, porque até mesmo partos instrumentais (fórceps ou vácuo-extração) podem ser realizados sem episiotomia. Fala-se muito em “ameaça de ruptura perineal grave”, para prevenir rupturas de terceiro ou quarto grau, mas o que, clinicamente, caracteriza essa “ameaça” ainda não está definido.
A episiotomia não é útil na distocia de ombros, porque o problema neste caso é uma desproporção dos ombros fetais com a pelve óssea, e não com o períneo da mãe. Possivelmente esses aspectos serão desvendados em estudos futuros. É importante lembrar que, como todo procedimento cirúrgico, a episiotomia só deveria ser realizada com o consentimento pós-informação da parturiente. O planejamento em relação a esta e outras intervenções também deve fazer parte do plano de parto.
O ideal é que a taxa de episiotomia nos diversos serviços seja inferior a 30%, o que já é realidade em muitos países europeus. A taxa de episiotomias também vem caindo significativamente nos EUA, embora ainda persista elevada: o percentual de episiotomias em partos vaginais variou de 65,3% in 1979 para 38,6% em 1997.
Infelizmente, no Brasil, a situação é ainda mais crítica, porque o procedimento é realizado em cerca de 94% dos partos vaginais. No país que é o segundo “campeão” mundial de cesáreas, quando não se corta por cima, se corta por baixo (Diniz e Chachan, 2004). Urge nos mobilizarmos contra essa prática abusiva, porque reduzir procedimentos cirúrgicos desnecessários é essencial na luta pela humanização do parto e na promoção de cuidados baseados em evidências. “
Fonte: Comunidade (orkut) G.O. Baseada em Evidências

Retirado daqui

Brasil deve modificar cultura de assistência ao parto


ENSP, publicada em 26/12/2011
Isabela Schincariol

O Inquérito Nacional sobre Parto e Nascimento, coordenado pela ENSP/Fiocruz, busca conhecer os determinantes, a magnitude e os efeitos da cesariana desnecessária em puérperas e recém-nascidos brasileiros, bem como descrever a motivação das mulheres para a opção pelo tipo de parto e as complicações médicas durante o período do puerpério. A pesquisa, iniciada em fevereiro de 2011 e coordenada pela pesquisadora da Escola Maria do Carmo Leal, pretende ouvir 24 mil puérperas em todo o país. Entre os resultados observados até o momento está a melhora na saúde das crianças brasileiras. Como ponto negativo, o estudo observa os altos índices de óbito no momento do parto. "No Brasil, as mulheres são medicalizadas para ter seu trabalho de parto acelerado. Temos que devolver a elas a possibilidade de parir no ritmo do seu corpo e da sua emoção", admite Maria do Carmo Leal.

A coordenadora lembra, durante apresentação da pesquisa no painel Parto cesáreo e suas consequências para puérperas e recém-nascidos, realizado no VIII Congresso Brasileiro de Epidemiologia, em São Paulo, em novembro de 2011, que a saúde das crianças tem melhorado substantivamente no País. De acordo com ela, ao tomar o indicador de mortalidade infantil como síntese da saúde das crianças, pode-se observar que há um decréscimo importante nessa situação, e isso se deu porque houve melhorias na qualidade de vida da população nos últimos 20, 30 anos.

"Essas melhorias têm a ver com o aumento da urbanização, do saneamento básico. Além disso, as mulheres começaram a estudar mais, tivemos mudanças nas relações familiares e uma valorização da mulher. É importante lembrar que tivemos uma diminuição da fecundidade e criamos um Sistema Único de Saúde nos anos 1980 que vem dando um foco especial à atenção primária em saúde - e que vem se mostrando bastante impactante na saúde das crianças e está diretamente relacionada com a queda da mortalidade infantil", lembrou a pesquisadora do Departamento de Epidemiologia da ENSP.

Segundo Maria do Carmo Leal, por outro lado, na medida em que a mortalidade infantil diminui, há uma grande concentração de óbitos no momento do parto. "Temos a mortalidade materna e a mortalidade perionatal, que é o somatório dos óbitos fetais tardios - aqueles que quase completaram seu ciclo de vida, mas nascem mortos, mais aqueles que morrem na primeira semana de vida. Esse conjunto, chamado de mortalidade perionatal, diminuiu um pouco, mas é extremamente elevado no País. Precisamos melhorar tanto a forma de atendimento no pré-natal - que tem cobertura universal, mas que tem problema de qualidade - quanto de atendimento no parto, que também tem cobertura universal para ser hospitalar, mas tem imensos débitos na qualidade da atenção".

As alternativas, segundo a palestrante, consistem em melhorar a qualidade assistencial pré-natal, em particular da assistência ao parto. Ela aponta que "se não modificarmos isso, teremos problemas com um forte indicador de saúde das mulheres, que pode ser observado pela mortalidade materna. O Brasil tem índices alarmantes de mortalidade materna. É um direito das mulheres ter seus filhos sem perder sua vida e, por conta disso, temos que cuidar da atenção ao pré-natal e da atenção ao parto".

Maria do Carmo comentou, ainda, alguns obstáculos da assistência obstétrica no Brasil, que, em sua opinião, é extremamente medicalizada e possui um número excessivo de cesáreas, que correspondem a mais da metade dos partos no país. Já em relação às mulheres que possuem melhor condição social e no setor privado, esse número ultrapassa os 90%. "Esse dado é absurdo, mas o problema não é só com a cesárea. Também temos problemas com o parto dito 'normal'. Na verdade, não se trata de um parto normal, mas sim um parto vaginal. Isso porque o normal é aquele em que se processa no ritmo do corpo da mulher, sem intervenção, deixando o parto evoluir de acordo com a necessidade de processamento da criança. Quase não temos isso no nosso país. As mulheres normalmente são aceleradas em seu trabalho de parto. Isso aumenta a dor, o desconforto e traz complicações. Queremos devolver às nossas mulheres a possibilidade de parir no ritmo do corpo e da emoção. Trata-se de um grande desafio e temos que modificar a cultura do atendimento ao parto, além da cultura profissional", conclui Maria do Carmo.

sexta-feira, 23 de dezembro de 2011

FELIZ NATAL!!

Estarei alguns dias longe do blog, mas deixo meus sinceros desejos de Natal à todos!


A importância de tratar os filhos com empatia!


ÓTIMO TEXTO, LEIAM!!

Por Jan Hunt, Psicóloga Diretora do "The Natural Child Project"


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A psicoterapeuta e escritora suíça Alice Miller diz, sem rodeios: "Qualquer pessoa que maltrata os filhos foi ela mesma gravemente traumatizada na infância... não há outro motivo para os maus-tratos às crianças senão a repressão da lembrança dos maus-tratos e da confusão sofridos pelo próprio agressor" (1). Então, como uma criança maltratada pode superar as experiências dolorosas e conseguir dar a seus filhos mais amor do que ela mesma recebeu? Será que essas crianças, ao se tornarem adultas, estão fadadas a reproduzir um ciclo interminável de raiva, agressão e retaliação? Ou existem meios de se interromper esse ciclo e aprender maneiras empáticas e sensíveis de tratar os filhos?
Embora os pais que ferem tenham sido eles mesmos feridos na infância, a perpetuação desse modelo não é inevitável: algumas crianças maltratadas crescem determinadas a dar a seus próprios filhos a infância que não tiveram. Meu pai, que algumas vezes apanhava ou era menosprezado por seu pai, traduzia esse desejo em "dar a meus filhos uma vida melhor do que eu tive". Mas essa afirmação é de uma simplicidade enganosa. Na verdade ela compreende dois passos difíceis: primeiro a pessoa precisa reconhecer que realmente foi maltratada na infância. Esse é o passo mais difícil, pois as experiências de maus-tratos na infância são tão dolorosas que as esquecemos; elas podem ser inacessíveis até mesmo quando já nos sentimos preparados para nos confrontar com nossas limitações emocionais. Como Alice Miller explica, "muita gente guarda apenas uma vaga lembrança dos tormentos sofridos na infância, pois aprendeu a considerá-los como um castigo justo por sua própria 'maldade', e também porque a criança precisa reprimir os fatos dolorosos para sobreviver" . Mas não é inevitável que a criança maltratada se tornem ela mesma agressora, "se, durante a infância, ela tiver a oportunidade - uma única que seja - de encontrar alguém que lhe ofereça algo diferente de pedagogia e crueldade: professor(a), tio(a), vizinha(o), irmã ou irmão. A experiência de ser amada e tratada com carinho permite à criança reconhecer a crueldade como tal, estar consciente dela e combatê-la".
Mas a consciência não é suficiente para interromper o ciclo dos maus-tratos. O segundo passo nessa direção é o adulto aprender a se relacionar com os filhos de um modo diferente, que talvez ele raramente ou nunca tenha presenciado em sua própria infância. Como esses pais podem aprender a tratar um filho com dignidade e respeito?
O Dr. Elliot Barker, Diretor da Sociedade Canadense para a Prevenção da Crueldade contra as Crianças, recomenda quatro medidas fundamentais para os futuros pais e mães criarem filhos emocionalmente saudáveis, "independentemente de quão inadequada tenha sido a sua própria criação"(2).

  1. Um bom nascimento. Como explica Elliot Barker, "se o pai e a mãe estiverem presentes ao nascimento e essa experiência for boa, é mais provável que os pais se apaixonem por seu bebê... o trabalho duro de cuidar do filho vai parecer bem mais leve; eles estarão encantados com a maravilha que é o seu bebê".
  2. Amamentar no peito por um período prolongado. "Amamentar o bebê enquanto ele precisar disso é outra coisa que a mãe pode fazer para permitir que outras coisas boas aconteçam... como por mágica. A amamentação a mantém apaixonada pelo filho. Amamentar durante meses ou anos contribui para que a relação entre mãe e filho sobreviva a tempos difíceis, que de outro modo poderiam causar separação e distanciamento emocional".
  3. Períodos mínimos de separação e consistência no modo de tratar a criança. De acordo com o pediatra William Sears, só os pais estão "perfeitamente sintonizados com as necessidades da criança. Afastar-se em momentos difíceis priva a criança de seu apoio mais valioso e também priva você de uma oportunidade de fortalecer sua amizade... os bebês aprendem a suportar suas necessidades insatisfeitas, mas ao custo de um rebaixamento da auto-estima e da capacidade de confiar"(3).
  4. Planejar o espaçamento entre os filhos. De acordo com Elliot Barker, "cuidar bem de uma criança de menos de três anos exige de pais bem intencionados uma quantidade enorme de tempo e energia. Planejar o espaçamento entre os filhos é importante para os pais não se exaurirem tentando cumprir a tarefa dificílima de atender às necessidades emocionais de filhos com pouca diferença de idade".
Essas quatro medidas atingem profundamente toda a família. Não só estabelecem a capacidade de amor e confiança do filho como também ajudam os pais a curar as feridas da própria infância. Criando um forte vínculo de amor e confiança entre pais e filhos, essas medidas podem deter o ciclo de maus-tratos em uma geração. Alice Miller nos garante que "é absolutamente impossível uma pessoa criada em ambiente de honestidade, respeito e afeição vir a ter qualquer impulso de judiar de alguém mais fraco... Ela aprendeu desde muito cedo que é correto e bom proteger e ajudar seres pequenos e indefesos; esse conhecimento, gravado em sua mente e em seu corpo desde muito cedo, valerá pelo resto de sua vida". Uma criança assim cresce com a convicção profunda de que é errado ferir um outro ser humano.
Infelizmente muitos pais recentes ignoram essas quatro medidas fundamentais. Pais agressores, que nunca receberam eles mesmos amor e confiança incondicionais, podem ter dificuldade em encontrar um modo diferente de se relacionar com os próprios filhos. O quê se pode fazer por essas famílias? Alice Miller acredita que mudanças na legislação poderiam obrigar os pais a "resolver o seu passado" se "a lei não permitisse mais que as crianças fossem usadas como bodes expiatórios". Na Escandinávia as leis protegem as crianças dos maus-tratos - não só agressão física e abuso sexual, mas também surras e intimidação. Essas leis não implicam em penalidades; elas têm como objetivo despertar a consciência das pessoas para as necessidades e direitos legítimos das crianças. Será que essa legislação pode funcionar, quando tudo o mais tiver falhado? Alice Miller acredita que "qualquer ser humano encurralado procura uma saída. E fica satisfeito e grato de coração se lhe indicarem uma saída que não implique em sentir-se culpado ou em destruir seus próprios filhos... Na maior parte dos casos, os pais não são monstros - eles são crianças desesperadas que precisam em primeiro lugar aprender a enxergar a realidade e tomar consciência de sua própria responsabilidade".
O ciclo inexorável dos maus-tratos pode ser interrompido com o tratamento amoroso das crianças por aqueles que atendem famílias, com programas educativos que enfatizem as quatro medidas de empatia entre pais e filhos e mudanças na legislação. Felizmente a capacidade de amar e confiar, uma vez incutida na criança, passa de geração em geração tão facilmente quanto passam a desconfiança e a crueldade. Alice Miller nos garante que "não é absolutamente verdade que os seres humanos precisem continuar prejudicando compulsivamente seus filhos... As feridas cicatrizam e não precisam ser reproduzidas, desde que não sejam ignoradas. É perfeitamente possível... estar aberto para a mensagem que nossos filhos nos passam e que pode nos ajudar a nunca mais destruir a vida e sim protegê-la e permitir que ela floresça".


N. da T.: para entender melhor as idéias de Alice Miller, leia "O Drama da Criança Bem Dotada - como os pais podem formar (e deformar) a vida emocional dos filhos". 

  1. Miller, Alice. Banished Knowledge - Facing Childhood Injuries. New York: Anchor Press, new edition, 1997.
  2. Barker, Elliot. Film Guide to CSPCC Videotape "Whem you Can't Fell No Love", 1991.
  3. Sears, William, M.D. Creative Parenting: How to Use the Attachment Parenting Concept to Raise Children Successfully from Birth Through Adolescence. Montreal: Optimum Publishing International, 1987. 
Retirado daqui

quarta-feira, 21 de dezembro de 2011

Resposta da Dra. Melania Amorim sobre o artigo "Os riscos de uma gravidez prolongada"

Resposta da Dra. Melania Amorim sobre o artigo "Os riscos de uma gravidez prolongada", do site Guia do bebê. 
Só para afirmar erros cometidos pelas profissionais que assistem a ultrassonografia...minha filha estaria com 42 semanas, no seu nascimento, se não fosse outro médico pegar e fazer os cálculos corretamente. E minha filha nasceu de 41 semanas e 2 dias. Leiam a resposta....


"Caro Editor:

Fiquei preocupada com a publicação do artigo "Os riscos de uma gravidez prolongada" no Guia do Bebê, especialmente porque sou colunista deste site e sempre acompanho com interesse as matérias sobre Gravidez e Parto, em geral ricas e bastante elucidativas para o público geral. No entanto, o artigo em tela foge à tradição já estabelecida pelo Guia do Bebê, trazendo diversas informações que não são respaldadas por evidências científicas sólidas e que, em vez de esclarecer, podem assustar as gestantes.

É certo que as gravidezes realmente prolongadas (além das 42 semanas) são relativamente raras, porque em muitos casos ocorre um erro na determinação da idade gestacional, porque a data da última menstruação não está correta, ou porque houve uma ovulação tardia e a fecundação não ocorreu por volta do 14o. dia do ciclo. Justamente por esse motivo, uma política de indução do parto ou, como ocorre com certa frequência em nosso país, de cesariana eletiva depois de 40/41 semanas (ou até antes!) pode promover danos, uma vez que bebês ainda não preparados para nascer podem ser retirados prematuramente do ventre de suas mães.

O excesso de induções ou cesarianas programadas por pós-datismo (gestações que passam da data provável, ou seja, de 40 semanas) tem sido responsabilizado como uma das causas do aumento crescente em todo o mundo do número de bebês chamados "pré-termo tardios" (entre 34 e 36 semanas) ou "termo precoces" (entre 37 e 38 semanas). Esses bebês apresentam risco aumentado de complicações no período neonatal, dentre os quais se destacam os distúrbios respiratórios e a icterícia.

Por outro lado, mesmo gestações realmente prolongadas, datadas corretamente, com idade gestacional confirmada por ultrassonografia precoce, podem ser fisiologicamente prolongadas, porque aquele bebê, especificamente, ainda não está maduro, pronto para nascer, e portanto não se ativa a complexa cascata de eventos hormonais e bioquímicos que leva à deflagração do trabalho de parto. Esses bebês também não se beneficiam de uma política de antecipação do parto, quer por indução quer por cesariana, como ocorre aqui no Brasil, onde infelizmente "antecipar o parto" virou sinônimo de cesariana eletiva.

O maior temor de uma gestação prolongada é que, com o passar do tempo, possa ocorrer insuficiência placentária, com redução do aporte de nutrientes e oxigênio para o bebê, o que pode acarretar sofrimento fetal e aumento da mortalidade perinatal. No entanto, a eliminação de mecônio não significa necessariamente sofrimento fetal, sendo um achado comum nas gestações a termo e pós-termo, em que decorre da maturidade intestinal do bebê. O problema é que, em alguns casos com insuficiência placentária, ocorrendo eliminação do mecônio por aumento do peristaltismo intestinal e relaxamento do esfíncter anal do bebê, na presença de líquido amniótico reduzido e de baixas reservas fetais de oxigênio, pode acontecer aspiração intrauterina de mecônio. Em casos mais graves, pode acontecer a morte fetal ou neonatal.

Como distinguir gestações fisiologicamente prolongadas de gestações complicadas por insuficiência placentária? Avaliando-se a vitalidade fetal através de ultrassonografia e cardiotocografia, porque ao contrário do que sugere o artigo do Guia do Bebê, a dopplervelocimetria não tem ainda um papel bem definido no acompanhamento das gestações que ultrapassam 40, 41 ou 42 semanas.Aliás, o ponto de corte a partir do qual se deve iniciar a monitorização da vitalidade fetal em gestações pós-data não está bem estabelecido.

A mais recente revisão sistemática da Biblioteca Cochrane incluiu 19 ensaios clínicos randomizados (ECR) e 7984 mulheres, randomizadas para indução do parto a partir de 41 semanas ou para aguardar o trabalho de parto espontâneo. Embora tenha sido observado menor risco de morte perinatal e de aspiração de mecônio no grupo submetido à indução do parto, o risco absoluto de morte perinatal foi extremamente baixo, 0,03% vs 0,3%, respectivamente. A conclusão dos revisores é que as gestantes sejam informadas sobre risco relativo (RR=0,30, ou seja, uma redução de 70% quando se induz o parto) e risco absoluto, para que possam participar ativamente do processo de tomada de decisão. Essa discussão deve envolver prós e contras de uma conduta ativa (indução do parto) ou expectante, para que a escolha seja livre, informada e consciente.

Algumas mulheres não querem ser submetidas a protocolos de indução do parto e irão ficar mais satisfeitas aguardando o trabalho de parto espontâneo, porque veem o parto como um processo fisiológico e desejam que este seja o mais natural possível; outras irão preferir uma indução, pelo receio de um risco relativo maior de morte perinatal e aspiração meconial. Esta é uma decisão que só a gestante pode tomar, e que deve ser considerada por todo mundo que escreve e pesquisa sobre gravidez prolongada. Na prática clínica diária, obstetras, enfermeiras-obstetras e obstetrizes devem esclarecer às mulheres sobre riscos e benefícios envolvendo a decisão, e programando estratégias de monitorização do bem estar fetal quando se opta por conduta expectante.

Infelizmente, no Brasil, esse dilema tem se tornado muito raro, porque é comum atribuir-se um "prazo de validade" para a gravidez, e pouquíssimas mulheres chegam à 41a. semana: no país dos 52% de cesárea, a gestação é amputada muito mais precocemente, através de cesarianas eletivas programadas antes mesmo que seja atingida a 40a. semana. Qualquer matéria sobre gravidez prolongada deveria considerar essa triste peculiaridade de nosso país."


A versão integral pode ser consultada na BIREME: http://cochrane.bvsalud.org/portal/php/index.php

Por Dra. Melania Amorim

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