Especialista ensina pais a sentirem os filhos durante gestação. Toque é a via para os sentimentos.
Haptonomia é daquelas palavras estranhas à maioria das pessoas, talvez porque não haja, em Portugal, especialistas nesta área. Pode definir-se como a ciência da afectividade e tem nos futuros pais um campo fértil de aplicação, ajudando-os a estabelecerem-se uma relação próxima, táctil e afectiva com o filho, mesmo durante a gestação. Os resultados, no bebé, são visíveis logo durante as primeiras semanas de vida.
Jaime Robert, médico espanhol que se especializou nesta "arte do ser humano" - "em que o profissional devolve ao paciente o protagonismo da sua cura" - profere, amanhã, na Escola Superior de Enfermagem Dr. Ângelo da Fonseca (Coimbra), uma conferência sobre acompanhamento haptonómico pré e pós-natal, no âmbito das comemorações do Dia Mundial da Saúde. Em declarações ao JN, explicou alguns dos benefícios que os bebés precocemente estimulados apresentam.
"São mais seguros e autónomos, apresentam um desenvolvimento psicomotor precoce. São mais alegres, tranquilos, afectuosos e socializam mais facilmente. Dormem uma noite inteira antes das três semanas de vida, sustêm a cabeça muito cedo e conseguem manter-se sentados e em pé, sem apoio, antes dos sete meses. Pronunciam as primeiras sílabas significativamente antes do que é habitual", sublinha Jaime Robert, acrescentando que os efeitos não se restringem primeiros tempos de vida, já que a haptonomia tem um "enorme valor preventivo".
Se os bebés se revelam mais tranquilos e alegres, as futuras mães vivem uma gravidez mais feliz e confortável, tanto a nível físico como emocional. Embora o acompanhamento haptonómico não se resuma à preparação para o parto, aumenta as probabilidades de o parto ser natural, sem recurso a anestesia e com menos intervenções obstétricas, como cesariana e fórceps, porque a mãe aprendeu a evitar posições incorrectas e ganhou a segurança que a torna capaz de viver o momento do parto de forma serena.
A recuperação tende a ser mais rápida e as complicações menos frequentes, assim como as depressões pós-parto. "A vida afectiva manifesta-se em termos físicos. O sentimento de bem-estar emocional traduz-se no plano corporal através de um tónus muscular muito específico - firme e flexível - e uma elasticidade dos ligamentos propício ao parto", sublinha Jaime Robert.
Este estado físico não resulta, contudo, de técnicas ou exercícios, mas, sim, do efeito libertador da "relação afectiva que confere segurança". Por esta razão, a haptonomia é incompatível com outros métodos que modifiquem a tonicidade muscular e a respiração, como o yoga e as técnicas respiratórias.
Quanto ao pai, "é assumir o direito de o ser antes do nascimento", envolvendo-se plenamente plenamente na gravidez. Estabelece-se, assim, "uma tríade afectiva" que permite a maturação da relação do casal e o acolhimento harmonioso da criança. A presença do pai, nas sessões de haptonomia, é de grande importância, mas só deve acontecer quando o progenitor está motivado para o fazer. Caso não queira, pode ser substituído por uma pessoa próxima da mãe. O trabalho de haptonomia nunca é realizado em grupo porque a privacidade é condição essencial ao saudável brotar das emoções. O ideal é que as sessões comecem por volta do quarto mês de gestação, mas podem começar até ao sexto mês, desde que haja tempo para a realização de um mínimo de oito encontros. O acompanhamento deve continuar até ao bebé andar.
Fundada, há mais de 60 anos, pelo professor Frans Veldman, a haptonomia aplica-se a diversos campos da medicina, desde a concepção até à morte. A palavra "hapto" deriva do grego e significa tacto, "no sentido de estabelecer uma relação com alguém para curar, devolver a integridade e, em sentido figurado, para confirmar ao outro a sua existência", de acordo com Jaime Robert.
Fonte: Jornal de Noticias em 07/04/2005
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