quinta-feira, 8 de dezembro de 2011

O Lado Negro do Parto - Parte 2


Tudo aquilo que ninguém te contará sobre o processo. 

"Para aqueles que escolheram a pílula vermelha..."

Texto publicado no Blog Opus Daimon
O parto é sexo 

O trabalho de parto, hoje em dia, é geralmente representado como uma experiência dolorosa, que quase sempre põe em risco a vida de ambos, mãe e bebê, e sempre é visto como um evento médico. 

Na maioria dos filmes, novelas e seriados, a mulher entra em trabalho de parto e corre para o hospital, passando geralmente por alguma tragédia horrível que exige que a equipe médica salve sua vida e a do bebê, quando não “morre de parto”, como acontece freqüentemente nas novelas brasileiras. O pai fica totalmente fora da equação, na grande maioria dos casos. 

Nossa cultura associa o parto à morte de tal maneira, que se esquece de que o parto é, na realidade, um evento fisiológico, natural, que faz parte da vida sexual do casal. A gestação começa com uma relação sexual e transcorre envolvida em um caldo de hormônios sexuais, tem grande efeito sobre a vida sexual do casal, porque haveria então o parto de ser um evento médico, uma emergência, e não um evento sexual também?

A parteira americana Ina May Gaskin comenta que, quando deixada em paz, a mulher em trabalho de parto faz ruídos que lembram muito os ruídos de uma relação sexual prazerosa, e que, para que o trabalho de parto transcorra da melhor maneira possível, o ambiente também deve ser similar ao que propiciaria as condições ideais para uma boa entrega sexual. Isso significa ter privacidade, e poder desfrutar de momentos agradáveis de relaxamento e entrega sexual. 

Para Ina May, é importantíssimo que a privacidade do casal seja respeitada durante o trabalho de parto, por uma razão muito simples e lógica: o colo do útero é um esfíncter, e como qualquer esfíncter, seu funcionamento não depende da vontade de seu dono, mas sim de seu nível de relaxamento. Faça o teste, experimente fazer cocô diante de uma platéia, ou com hora marcada, e entenderá como um esfíncter pode ser caprichoso e independente. 

A entrega sexual na hora do parto não necessariamente significa fazer sexo, mas sim criar uma atmosfera de entrega e intimidade entre a mulher e seu parceiro, que pode, e deve, estar presente nessa hora. Beijos apaixonados, massagens, carinhos, chamegos, palavras amorosas, ajudam a relaxar a mulher em trabalho de parto, facilitando o trabalho de dilatação. O sexo em si não é contra-indicado, a menos que a bolsa amniótica já tenha rompido, e pode ser uma maneira muito agradável de iniciar o trabalho de parto. 

Em ambientes propícios, que respeitam a privacidade e a entrega do casal, a experiência do parto deixa de ser uma imagem daquelas de deixar os cabelos em pé e as palmas das mãos suadas, e passa a ser uma imagem às vezes constrangedora de se olhar pela intimidade e sexualidade que dela emanam. Um pai, no documentário Orgasmic Birth, the Best Kept Secret, menciona que, na hora em que seu filho nasceu, sua mulher estava de quatro, com a bochecha apoiada na sua, suando, gemendo... Realmente parecia que estavam transando! 

No mesmo documentário, a jovem Amber relata que, durante o nascimento de sua filha, sentiu nitidamente dois orgasmos maravilhosos, como um excesso de energia que ela precisava liberar; e seu marido conta que não acreditou quando viu o rosto de sua mulher se diluir em êxtase no que ele esperava ser o momento mais doloroso da vida de qualquer mulher. 

A parteira Ina May Gaskin é outra que relata ter sentido uma experiência próxima do orgasmo no nascimento de seu filho, e diz que, após fazer uma pesquisa informal com as mulheres de sua região, chegou ao surpreendente resultado de 21% de mulheres que diziam ter sentido prazer durante o seu parto, que na maioria das vezes havia sido natural e em casa. 

O principal hormônio responsável pelo trabalho de parto é a ocitocina, o famoso “hormônio do amor”, que produz contrações do útero ao mesmo tempo em que gera uma sensação muito forte de prazer, amor e euforia. Isso é um fenômeno fisiológico que serve para diminuir a sensação de dor, é uma “anestesia natural”, e conforme o trabalho de parto vai avançando, é produzida cada vez mais ocitocina, que causa cada vez mais contrações e cada vez mais prazer, até propiciar um estado alterado da consciência, otranse do parto, chamadoPartolândia, que é muito similar aos momentos que antecedem o orgasmo: a pessoa perde a noção do tempo e da realidade, se volta para dentro de si mesma para então explodir no prazer do gozo. 

A ocitocina é liberada em momentos de prazer intenso, como durante o orgasmo, e em momentos de tensão é liberado o hormônio adrenalina, que impede a correta absorção da ocitocina pelo organismo. A adrenalina é o hormônio do medo, e uma de suas funções é preparar o indivíduo para a luta ou para a fuga, tensionando seus músculos.

A adrenalina é o inimigo número um da ocitocina, e o medo é o inimigo número um do parto. Quando a mulher sente medo, ela tensiona os músculos, o que atrapalha a dilatação e a passagem do bebê, e não consegue absorver corretamente a ocitocina, o que a faz sentir dor. É um círculo vicioso: medo gera tensão, e isso traz dor

A função da equipe de saúde é, idealmente, propiciar um ambiente de parto que não coloque a mulher no círculo vicioso de medo-tensão-dor, o que ainda é muito raro nos hospitais brasileiros. Essa é a proposta doParto Humanizado: resgatar a intimidade do parto, respeitando sua natureza sexual e o delicado equilíbrio hormonal envolvido em seus processos naturais.


Daqui

2 comentários:

  1. To adorando os texto. Esse, então, tá muito bom!
    Sabes qual a fonte do texto?

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  2. Oi Ana!! É da própria Adèle Valarini, doula em Brasília! Ela escreve muito bem, né?! Também estou adorando! E o vídeo que ele cita, o Orgasmic Birth, também é maravilhoso!!

    Bju!

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