Arte na Barriga! |
"41 semanas.
Acordei às 3hs da madrugada para ir ao banheiro, senti
algumas fisgadinhas no pé da barriga. A essa altura, já desconfiei que pudesse
ser o tão esperado momento que estivesse começando. Voltei para cama e não
durmi mais. Passava de tudo pela minha cabeça, não tinha certeza se era
trabalho de parto começando, mas desejava muito que fosse.
Até as 5:30hs as coliquinhas vinham em intervalos de 10
minutos. Acordei o Robinson e contei que alguma coisa estava começando.
Fui tomar banho e fiquei mais ou menos uma hora no chuveiro,
rebolando na bola suíça. Olhava para o barrigão e não acreditava no que estava
acontecendo, eu estava feliz, pois já tínhamos começado a falar em indução com
42 semanas e eu queria muito que tudo acontece naturalmente. Ali no chuveiro
imaginava mil coisas, me despedi da barriga e chamei Alice. Estava tudo pronto
e o papai estava em casa com a gente.
Esperei as 8hs e liguei para minha mãe. Disse que Alice
queria nascer, mas que pelo visto ia demorar, pedi que não falasse para ninguém
ainda. Minha mãe veio para minha casa, trouxe um cafezinho...
Avisei a Analu, nossa doula. Eu já sabia que ela estaria no
hospital com a mãe que faria uma cirurgia. Por um tempo temi que ela não
pudesse estar comigo, mas ela logo respondeu minha mensagem me pedindo para
avisar quando a coisa apertasse.
Não procurei descansar e não dormi. Não sabia que tínhamos
longas horas pela frente.
Até o meio dia as contrações eram super tranquilas e vinham
em intervalos irregulares de 5, 6, 7 minutos, até que parou tudo. Fiquei
apreensiva, seria um alarme falso??
Eram quase 14hs quando as contrações voltaram. Tudo muito
tranquilo, a dor era mínima.
Eu tinha um certo receio quanto a distância que estávamos do
hospital e que quanto mais se aproximasse das 18hs, pior ficaria o trânsito.
Também queria a Analu comigo, e como combinamos que nos encontraríamos no
hospital, decidi ir logo. Na última consulta eu estava com 3cm e sempre achei
que pudesse ter um parto rápido (há há há).
Às 17hs liguei para a dra Ana Claudia, conversamos um bom
tempo, ela disse que eu decidiria a hora de ir ao hospital, mas ficou na dúvida
se eu estava mesmo em trabalho de parto, pois conversei normalmente com ela
durante as contrações.
Eu achei que poderia ser cedo ainda, mas tinha plena
confiança na equipe que iria me acompanhar, sabia que não seria pressionada
quanto ao tempo e que poderia ficar à vontade no hospital na companhia das
pessoas que escolhi para estarem comigo.
Chegamos às 18hs no hospital. Pedi para Dra Ana esperar uma
avaliação antes de ir. Me examinaram, 3cm como já estava antes.
Opaaa... o dia todo com contrações e nada? Aiaiaiaia...
A Dra Ana pediu a internação e foi ao nosso encontro.
Entrei na sala de pré parto sozinha, logo chegou a Analu.
Que alívio vê-la ali. Em seguida entrou o Robinson e Dra Ana.
As dores eram como cólicas menstruais fortes, bem
suportáveis.
Ficamos um tempo na bola, recebi massagem da Ana, o Robinson
segurava minha mão. A Dra Ana saia da sala, às vezes aparecia para dar um
espiada.
Fui para o chuveiro com minha bola, a água quente aliviava
bastante. Ríamos e conversávamos.
Até que começou a perder a graça (rsrsrs). Já não tinha
vontade de rir nem conversar.
Às 21hs Dra Ana fez um toque, 6cm. Hoje eu acho ótimo, mas na
hora achei pouco. Sabia que o pior estava ainda por vir.
Agora o bixo tava pegando, comecei a andar e vocalizar. Me
agarrava no Robinson e me inclinava nas contrações. Tava doendo!! Muitoo!
Comecei a me sentir cansada. Por quê mesmo que eu não dormi quando podia???
Senti muito cansaço e sono. Queria fechar os olhos, deitar. Ana me trouxe chá docinho e bolacha. Comi um
pouco, mas a dor já não me deixava ter vontade de nada.
Às 23hs conheci a Partolândia, daí em diante não tenho
certeza sobre a hora ou a ordem dos acontecimentos.
Senti náusea, vomitei, não tinha mais forças. Comecei a
falar para o Robinson que não aguentava mais, que precisava de analgesia ou
anestesia. Ele tentava me convencer de que não precisava, assim como tínhamos
combinado.
Dra Ana fez outro toque, 8cm. Senti receio. Estava no meu
limite (só que não), não conseguia ter esperança de que iria acabar. Não
imaginava a Alice chegando e a dor indo embora. Perdi o foco por alguns
instantes.
O cansaço me dominou, pedia para o Robinson avisar a Ana que
estava lá fora que eu queria a anestesia, ele tentava mudar de assunto, pois
nós tínhamos conversado e eu disse que não queria, mas que provavelmente eu
pediria. Ana entrou e eu olhei para ela e disse que eu estava falando sério,
que não aguentava mais. Ela me sugeriu um medicamento que não diminuiria a dor,
mas espaçaria as contrações, tornando o intervalo entre elas maior, já que
quase não tinha mais intervalo e, assim, eu talvez conseguisse descansar um
pouco.
Aceitei. Deitei e as contrações espaçaram. Dormia
profundamente entre uma e outra. Analu e Robinson se revezavam nas contrações e
me davam apoio, massagem, a mão, o carinho.
Fiquei mais ou menos uma hora assim, até que a medicação se
foi e a Partolândia voltou com tudo.
Me deu muita vontade de ir ao banheiro, fazer o número 2.
Parece que eu não ia segurar. Eram puxos.
Uma vontade de fazer força indescritível. O meu corpo inteiro queria
fazer força.
Era a Alice descendo, se encaixando.
Não sentia mais dor, só muita vontade de fazer força.
Ana pediu para examinar, dilatação total e Alice bem
embaixo. Me disse para escolher uma posição que eu me sentisse à vontade para o
expulsivo.
Sentei na cama e apoiei os pés. Me senti muito confortável
assim, me dava impressão de conseguir algum controle quando vinha a contração.
Eu tinha medo de fazer força. É, o medo que até então não
tinha dado as caras, apareceu.
O expulsivo foi longo. Eu segurava o que podia. Alice descia
e mostrava o cabelinho e voltava. Todos me incentivavam dizendo que Alice
estava ali, aparecendo já, que faltava muito pouco.
Resolvi soltar o corpo e empurrar.
Senti que era isso que deveria fazer.
Empurrei, empurrei e
nasceu a cabecinha às 6:40hs. Soltei um grito com vontade, o único grito, não de
dor, de alívio. O maior alívio que senti na minha vida.
O corpinho resbalou quentinho. Senti tudo. A sensação é
indescritível.
Acabou.
O mundo parou.
Ela veio para mim cheirosinha, quentinha. Me espantei com a
bochechuda que ela era. Moreninha, cabelinho preto, totalmente diferente do que
eu imaginava. Cabeluda, muito cabeluda.
3,980kg. Era toda minha. Eu não conseguia acreditar. Chorei
muito, soluçava. Olhava para o Robinson, olhava para a Analu, fitava a Alice.
Meu Deus! Consegui! Tanto chamei pelo meu Deus durante todo
tempo, tantas vezes pedi forças para Ele, pedi ajuda e agora estava ali o
presente que Ele nos mandou.
Perfeita, saudável, linda. Demorou um pouco para chorar. Ana
não esperou para cortar o cordão, pois meu sangue é negativo e ficou combinado
assim. Robinson não quis cortar, estava emocionado como eu nunca tinha visto.
Nada mais doía em mim. Ana verificou uma pequena laceração,
meu deu 2 pontinhos.
Deitei meu corpo e parece que nada tinha acontecido. Nenhuma
dor. Agora eu tinha minha família, minha herança.
Agradeço as Anas da minha vida pelo apoio e respeito.
Ao Robinson que foi onde encontrei força para ir até o fim.
Minha maior emoção foi ver a felicidade dele quando conhecemos a Alice.
Tudo quanto Deus faz é perfeito. Minha família é prova do
amor e fidelidade Dele."
Nenhum comentário:
Postar um comentário