segunda-feira, 27 de setembro de 2010

Relato do nascimento do meu 1º filho

Relato da cesárea do meu 1º filho Bernardo



   Estou a quase 4 anos para escrever este relato, antes era por falta de coragem e depois por falta de tempo.
    Meu filho foi concebido desta paixão avassaladora que sinto pelo meu marido. Tinha 23 anos quando engravidei, cursava faculdade de Nutrição, fazia estágio de 8 h/dia, remunerado, pela prefeitura da minha cidade. Era independente, emponderada, altiva. Morava com minha mãe e irmãos, meu pai vinha nos "visitar". Meu marido (na época noivo) largou emprego para fazer cursinho para concurso do Banco. Sempre o apoiei nas decisões dele, afinal, a felicidade dele é a minha também.
    Descobri que estava grávida somente porque notei uma mudança de peso (emagreci) e, meus seios ficaram lindos, redondos (rsrsrsrs), pareciam silicone. Na verdade minhas colegas de estágio (todas agora Nutris), é que não paravam de repetir "tá grávida" e eu dizendo "não tô, mestruei, tomo pílula, não tem como!". Até que uma das minhas "chefas" (Betina querida), foi na farmácia, comprou um teste e disse "Faz o teste, não custa". Certo... de madrugada fui no banheiro de baixo na casa da minha mãe, para ninguém ver ou ouvir nada. Levei o teste para o meu quarto e esperei... um risco só...não estou grávida! ufaaa! No segundo seguinte, olho...dois riscos...MEU DEUS! Não pode serrrr!! Um misto de emoção (minha profissão, missão é Ser mãe) e medo (responsabilidade, não tenho casa, não estou formada, nem casada, meus pais vão me matar!!!) tomou conta de mim. MÃE... já! Nossa! Pensava eu... E o Beto??? Se ele não assumir? O que faço?
    No outro dia conto as minhas colegas, com certeza de que era alguma alteração hormonal, sei lá.... E elas me dando os parabéns, dizendo para eu fazer exame de sangue e confirmar logo. Disse que iria só no fim de semana com Beto ( já havia avisado, mas ele não queria comemorar antes da hora)... e também se eu desmaiar ele me segura. Fui no laboratório pedi o exame, que uma hora depois estaria pronto e o que é que tá escrito?? de tanto medo não entendia nada! SIM, GRÁVIDA, e bem grávida! Meu marido quase pulou de tanta alegria e , sorriso de orelha a orelha...eu desandei a chorar... e agora??? O que vamos fazer??? "Calma!" Disse meu marido, "vai dar tudo certo!"." Quando vamos contar?" perguntei. "Não sei?" disse ele.
    Fui na minha ginecologista, em outra cidade, que ia desde sempre, e contei a minha história. E acreditem, ela disse de uma forma mais amena, que eu era uma irresponsável, perguntou a minha idade, que eu não podia ter feito isso, blá, blá, blá... Me deu uma pilha de exames para fazer, ácido fólico para tomar. * Agora não me lembro se fiz os exames e contei para os meus pais, ou foi o contrário...dinheiro eu tinha para pagar.... enfim.*
     Eis então, que vou fazer minha 1ª ecografia ( quase todo mundo foi junto ver o 1º tudo, neto, sobrinho, bisneto das duas famílias) e o susto, já estava com 13 semanas e mau tinha tomado o ácido fólico. Graças a Deus estava tudo certo com meu filho! Havia decidido mudar de médica e, fui procurar na minha cidade. A Drª J me foi indicada por uma amiga.  Na 1ª consulta expliquei o motivo da troca de médicos e, se não me engano, já tinha dito que queria parto normal. Na época sabia que a recuperação era mais rápida e, era o melhor para mim e meu filho, e não imaginava a chegada dele de outra forma.
    Nas consultas seguintes, o de praxe, exames, algumas dúvidas sobre o bebê, o comum que se vê em consultórios. No 5° mês descobrimos que era o Bê, para desmentir todo mundo que dizia que era menina. Ah! Nesta época, Beto e eu nos casamos de papel passado e, na Igreja...foi lindo!! Assim fomos até as 38 semamas quando a DrªJ avisou que o bebe era grandão e estava muito alto, e que eu caminhasse. Olha acho que caminhei toda a gravidez... mas não vem ao caso. Não sentia muitas contrações ( que para mim eram como caimbras na barriga, por isso nem dava atenção, rsrsrsrs).
    Eis que chega as 40 semanas e, minha GO desata a falar todo o vigário. "Bem Ana, acho que vamos marcar a cesárea, porque o teu bebê tá com quase 4 kg, tem cabeça grande, tá alto, tuas contrações não estão boas e teu colo tá com uma polpa, grosso e posterior..." (infelizmente para mim, na época, isto tudo era grego). Disse que queria parto normal e, que tinha lido que podiamos esperar até as 42 semanas. Ela disse que era arriscado e , que ela não correria esse risco. Perguntei da indução (minha irmã, técn. enfermagem, que me falou desta possibilidade) e ela disse que não me faria sofrer e, que era arriscado para nós dois. Pedi mais uma semana, para ver se entrava em trabalho de parto. Ela me deu, mas mandou deixar marcada a cirurgia quando saísse, para quarta (dia do plantão dela), 15/11/2006.
     Chorei a última semana inteira. E para piorar, minha sogra ligava mil vezes por dia para saber se estava nascendo (fiquei com muita raiva e magoa dela). Rezava toda hora para entrar em TP, caminhava e já estava desacreditando do meu poder de parir.
   Na data marcada chegamos ao hospital (minha mãe, meu marido e eu), fui levada ao CO e me fizeram mil perguntas, rasparam meus pêlos e, me levaram para salinha do CC. Lá eu espero mil anos de novo, mas a equipe era muito gentil e atenciosa (claro).  Me passaram para a sala de recuperação, onde fui sondada (xixi) e rasparam meus pêlos outra vez,  pois a Drª J havia reclamado da limpeza da área.
    Mais um tempo esperando, deitada na maca e minha GO (ex agora) vai me buscar feliz da vida!  Chegando na sala de cirurgia, parecia que eu estava em uma "feira de horrores"... quanta coisaaa, quanto instrumento... para que tudo aquilo? Fiquei um pouco apreensiva, mas tentei focar no momento, na chegada do meu bebê. Me colocam na mesa de cirurgia com cuidado para a sonda não sair ( a bexiga não pode estar cheia na hora). A pediatra da equipe (que foi como uma doula para mim e hoje percebo isso), me explicava todos os procedimentos que estavam sendo feitos. Segurou a minha mão na anestesia (que nem doeu como falam) e foi me acalmando durante todo o processo. Tive uma ligeira queda de pressão, antes de começar o procedimento devido ao peso da barriga (estava deitada de barriga para cima), mas me viraram de lado e tudo se normalizou.
    Começam a cirurgia e percebi que meu marido não havia chegado na sala, mesmo eu tendo avisado que ele iria assistir o parto. Uma enfermeira saiu da sala e foi buscá- lo às pressas. Beto chegou, me deu um beijo, perguntou se eu estava bem e tirou uma foto. Sentou ao meu lado e ficamos ouvindo o que os médicos estava explicando (o que estavam fazendo no momento). A Drª J me avisou que por nascer de cesárea, talvez Bê não choraria de imediato. Foi aqui que ela pediu para meu marido olhar, uma enfermeira empurrou minha barriga (Beto tirava foto que nem louco, rsrsrs), a Drª J disse que ele estava nascendo e em seguida ouvi o chorinho dele! Que emoção!!! Não se tem palavras para descrever este momento...
     Perguntei para meu marido como ele era, Beto resmungava alguma coisa (chorava e chorava), perguntei acho que mais três vezes, até entender o que ele dizia, rsrsrs. Ele disse que era cabeludinho. Que amor, adorei ver o meu marido assim, apaixonado! Parece que a pediatra pesou e mediu ali mesmo, fez aspiração e me trouxe ele. Desamarraram somente um dos braços (isso me deixou muito brava), para eu poder lhe dar um carinho...ele é LINDOOO! Um Ser perfeito, frágil, simplesmente fascinante... o meu filho! Depois Beto segurou ele e a pediatra tirou fotos e mais fotos, ela foi um apoio neste momento, sou grata até hoje.
     Beto ficou mais um pouco com o Bê na sala de cirurgia (enquanto me costuravam), depois saiu para mostrar  a minha mãe seu 1º neto.  Bê foi levado para o berçário, onde ficaria 4 horas longe de mim (não entendo e não aceito isto até hoje). Durante toda a cirurgia não passei mal, não tive enjôo, tremedeira, nem nada destes efeitos da anestesia. O clima era ótimo, todo mundo feliz com o momento,  a cirurgia em si correu muito bem, não tenho do que me queixar... mas é uma cirurgia, gente? Dá para entender?? Não consegui segurar meu filho, nem dar de mamar e, o pior, fiquei sem ele toda a minha recuperação. Ficar deitada, para mim, não fazer nada durante o processo, não ver meu filho nascer, foi muito frustrante... na realidade, chocante! Não me senti à vontade com esta situação. 
Às 10:10 da manhã, Bê nasceu pesando 3810g, medindo 49 cm, apgar 10 - 10, com 36 cm de cabeça (cabeçudo, disse a pediatra, rsrsrs).

pronta


nasceu o principe


Bê nos braços da pediatra


1º cheiro que a mamãe deu!


Amo eles!




Família, família....


Vovó babando.


Bê estava preguiçoso


    Bem, continuando... Quando a anestesia começou a passar foi que me trouxeram ele. Foi ai que pude abraçá-lo, beijá-lo e dar de mamar, tentei na verdade. Descemos para o quarto e nos acomodamos. Por ter ficado muito tempo longe de mim, Bê não mamou muito bem, estava dorminhoco, porque ficou tanto tempo longe de mim. A enfermeira, veio me aterrorizar e disse que se a glicose dele não melhorasse, ele teria que ficar um tempo mais no hospital. Fiquei nervosa demais (aquele corte me encomodando, não conseguia nem me ajeitar, como amamentar....ui que ódio) e agora isso! Meu filho não queria mamar, mas fui insistindo, até ele pegar mais vezes o peito e a glicose normalizar ( furaram ele umas mil vezes, para fazer o HGT, coitadinho).
     Fiquei 2 dias no hospital, pedindo remédios para dor, querendo sair correndo, me enfiar num buraco... Quando fui tomar meu banho (12 horas depois da cirurgia), não conseguia me levantar, era dolorido demais. A enfermeira, me aterrorizando de novo,  disse que se eu não tomasse banho agora, teria que esperar o outro dia e, minha alta iria ser mais tarde ainda. Embora estivesse me sentindo segura no hospital, com um monte de gente me controlando, cuidando ( começava ai a depressão pós parto), tomei coragem e me levantei, tomei um banho ( claro que quase desmaiei, passei mal). Depois me senti bem melhor, limpa, mas a dor era  insuportável. Pensava no meu filho, que estava recebendo toda esta medicação através do leite, mas não tinha como aguentar no  osso... 
    Vieram nos visitar os tios, as avós e os dindos do meu pequeno. Quando recebemos alta, fui andando para o carro, chovia e estava calor. Foi estranho sair do hospital... apavorante também (DPP). Pensar em ficar sozinha, desamparada era apavorante. Meu marido ficou 1 semana em casa. Foi um anjo, fazia tudo pra mim em casa. Eu amamentava, dava banho e trocava as fraldas. Minha mãe não ia muito lá em casa (moramos uma do lado da outra), porque ela achava que eu não queria. Consequência, fiquei sozinha, cuidando do Bê, fazendo algumas tarefas domésticas, que não podiam esperar, ate meu marido voltar do trabalho. Me sentia muito sozinha e perturbada. Ficava melhor quando meu marido chegava do trabalho a tardinha.
    Na reconsulta de um mês com a Drª J, ela me disse que era Depresão Pós- Parto (claro que foi pela cesárea que fiquei assim). Me deu um remédio para tomar durante dois meses, mas na 1ª semana de uso já me sentia muito bem. Toda aquela sensação ruim, aquela indiferença com meu filho, passaram. Me sentia renovada. A partir dai foram muitas alegrias, meu SER MÃE, SER MULHER, SER MAMÍFERA estava aflorado.
    Não acho que a Drª J tenha tomado esta conduta (cesárea) por maldade, afinal eles (médicos), aprendem a tomar o controle da situação, faz parte da formação da maioria dos médicos. Deixar a mulher ser protagonista do seu próprio parto, sem interferência deles, tendo -os como meros espectadores do poder da Natureza, deve ser apavorante... como diz Dr. Ric Jones  "... envolve vida, morte e sexualidade".
   Agradeço à Deus por ter olhado por nós durante a cirurgia. Ao meu marido, que sempre me ajudou no pós parto e me encorajou a amamentar, fazendo eu acreditar que podia passar por isso. E a minha família e amigos que me deram muito carinho!


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