sexta-feira, 23 de setembro de 2011

CULPA MATERNA: Na verdade estão nos culpando ou somos nós quem nos culpamos?



Vamos refletir sobre a culpa materna. Ela tem origens em várias vertentes da história da sociedade moderna, atravessando tanto as linhas da figura da mãe perfeita, da figura da mãe que conquistou o seu direito no mercado no trabalho e da mãe que a sociedade ainda hoje espera que ela seja.
Do que estamos nos culpando tanto? Vou classificar alguns “níveis de culpa” que observo principalmente no comportamento da mulher moderna:
1)      A primeira culpa se refere a não saber expressar muitas vezes angústia que se sente no pós-parto. Como podemos sentir angústia, melancolia e até depressão em um momento tão feliz para nós e para toda nossa família? ;
2)      A segunda culpa se refere ao fato de não compreendermos muitas vezes os intermináveis choros de nossos bebês e o sentimento de impotência se apodera muitas vezes de nós, gerando mais culpa;
3)      A terceira culpa ser refere á amamentação – função exclusiva das mães. Há uma urgência de que o bebê cresça logo, engorde logo, mame divinamente. Se isto não acontece, a função da amamentação é prontamente substituída por recursos e métodos que são “eficientes” para todos e, menos para o bebê;
4)      A quarta culpa é à volta ao trabalho. Se Winnicott afirma a importância fundamental da estrutura emocional de um bebê nos seus dois primeiros anos de vida, e que, esta estrutura depende basicamente do contato dele com a sua mãe através do vínculo, da amamentação, a mãe estaria de fato impedindo este desenvolvimento?
A culpa materna está instalada no inconsciente cultural, e, de tão poderosa, ela é capaz de apagar completamente a importância deste primeiro momento (integral) da mãe com o seu bebê. Ela também é ditadora. Cruel. Pois os caminhos da maternidade muitas vezes não podem ser reavaliados, refletidos, repensados, reconsiderados... A mãe deve ingressar no mercado precocemente (em relação ao tempo de licença maternidade) e nada pode ser feito para mudar isso. Ela não tem escolhas, não tem alternativas. E passa a acreditar que o tempo com seu bebê, de dois anos ou mais, é um desperdício para a sua vida, a sua carreira, os seus objetivos.
A conta matemática de que: eu perco 5 anos para ganhar 50 na vida do meu bebê é uma conta falha, que não dá resultado positivo no final. O que importa é o AGORA, a urgência deste momento, e vou lidando com a culpa materna extinguindo ela com conceitos errôneos de que, o comportamento social deste momento é o correto.
Sentimos culpa porque não ouvimos á nós mesmas e a nossa voz interior. Não podemos fugir da maternidade porque ela está em nós, arraigada com raízes profundas e densas. Fazemos vistas grossas e ouvidos surdos aos apelos dos nossos bebês. E nos deixamos enganar pelo aparente silêncio de sua fala não proferida de que eles estão bem e de que irão ficar bem.
A culpa é um tema sempre recorrente porque na verdade, ainda não encontramos todas as respostas. Porque na verdade essas respostas que temos ao nosso alcance não nos convencem. E, enquanto estivermos ignorando a voz que fala através da nossa relação única entre nós e nossos bebês, a culpa será sempre uma sombra, grudada em nós, e da qual não nos livraremos dela, mesmo mudando os ângulos nas nossas direções de vida constantemente.
Cabe, portanto, á nós, mães, dar lugar e projeção á esta voz interior e deixar de uma vez por todas de sermos enganadas por nós mesmas e pelo nosso entorno. Cabe á nós a mudança de paradigmas para o bem dos nossos filhos e consequentemente á construção de um lugar melhor dentro as nossa sociedade onde possamos viver plenamente. E sem culpa.

Por Simone de Carvalho

Nenhum comentário:

Postar um comentário

Related Posts Plugin for WordPress, Blogger...

MundoBrasileiro