terça-feira, 8 de novembro de 2011

O papel do pediatra no nascimento humanizado


Texto maravilhoso!!

Por Douglas N. Gomes*

O trabalho do pediatra está completamente inserido no momento do bem nascer. Seu papel é importante para garantir a preservação do que a natureza reserva para mães e bebês no nascimento. Cabe a esse profissional evitar as interferências causadas por procedimentos desnecessários ou inoportunos no nascimento.
Entre as suas atribuições primordiais está a de garantir um contato íntimo, pele a pele, da mãe com o bebê após o nascimento. Além satisfazer a vontade da maioria das mães de ver e tocar seu bebê logo após o parto, esse contato também é a melhor forma de proporcionar o equilíbrio da temperatura e dos sinais vitais do bebê, fato que já foi provado por pesquisas científicas desde 1995.
Hoje sabe-se que quando é garantido um ambiente aquecido e com pouca luz quase todo recém-nascido olha demoradamente os olhos de sua mãe, muitas vezes não chora e se adapta com mais tranquilidade ao novo ambiente menos quente, mais barulhento e com maior força de gravidade do que o uterino.
Está cientificamente comprovado que os bebês que mamam na primeira hora de vida têm maior possibilidade de estender seu período de amamentação exclusiva, chegando com mais facilidade ao ideal recomendado pela Organização Mundial da Saúde de alimentar os bebês exclusivamente ao seio até os seis meses de vida e manter a amamentação, junto com alimentos complementares, até dois anos ou mais.
A essência da assistência humanizada ao parto e ao recém-nascido está em atender da melhor forma possível as necessidades de saúde das famílias nesse momento tão especial da vida. E, ao mesmo tempo, não ceder ao interesse do sistema médico de oferecer recursos tecnológicos muitas vezes desnecessários ou inoportunos para a investigação de doenças e problemas de saúde. Na base da filosofia humanizada está o entendimento da saúde como o bem estar e a felicidade das pessoas. Não apenas como a ausência de doenças.
Se por um lado é certo que evitar, identificar e tratar doenças ou problemas do corpo, da mente e da vida social das famílias fazem parte do papel do médico pediatra, por outro ainda são poucos os profissionais que conseguem identificar as reais necessidades de saúde das famílias durante o parto, o nascimento e a infância.
Para isso, o pediatra precisa ter uma escuta qualificada para questões não médicas e por vezes muito determinantes da saúde dos bebês e das crianças como a história de vida do casal e de suas famílias, as qualificações individuais dos pais para lidar com mudanças ou com situações diversas da vida, a resiliência de cada um, o entendimento que as famílias têm do processo de nascimento e parto, o entendimento individual do processo saúde-doença, a rede de apoio familiar do casal e até os conflitos na relação do casal, que não raro se refletem em problemas para a criança, como por exemplo na dificuldade de amamentação.
Faz parte do atendimento humanizado ao recém-nascido não realizar movimentos intempestivos, que causam choro ou desconforto, em suas primeiras horas de vida. O bebê deve ser manuseado com suavidade e leveza. Algumas ações que refletem essa manipulação delicada e suave são:
• movimentar lenta e delicadamente o bebê após sua saída do canal de parto para conduzi-lo ao colo da mãe;
• enxugar delicadamente com panos preaquecidos a parte de trás do corpo do bebê, que não está em contato direto com a pele da mãe;
• enxugar apenas tocando, sem esfregar a pele do bebê;
• trocar os panos preaquecidos que envolvem o bebê, a qualquer momento, se ficarem úmidos ou encharcados de líquido;
• dar atenção especial ao rosto do bebê, limpando suavemente eventuais resíduos de líquido ou sangue;
• encontrar uma posição mais confortável para o bebê sobre o ventre ou o peito da mãe caso ele chore ou mostre algum desconforto;
• não deixar em nenhum momento o bebê desenrolado ou com partes do corpo descobertas ou expostas ao frio;
• se o bebê nascer na água, aquecê-lo com a própria água morna da banheira, derramando-a suavemente sobre as costas dele;
• aguardar o bebê dar sinais de que quer mamar para posicioná-lo próximo à aréola do seio materno, dando a ele a oportunidade de se movimentar para buscar e abocanhar o peito;
• não interromper o contato pele a pele do bebê com a mãe por motivos banais como a necessidade de mudança de posição da mulher para os procedimentos finais do parto;
• realizar os procedimentos de rotina, como pesar e medir o bebê, apenas depois que ele terminar de mamar ou após o final da primeira hora de vida, se não tiver mamado;
• pesar o bebê enrolado em panos preaquecidos para não expô-lo ao frio;
• fazer o primeiro exame pediátrico com o bebê em ambiente aquecido, com enrolamento parcial, em posição organizada (com os membros agrupados) e com contenção facilitada pelo pai ou familiar;
• dar o primeiro banho do bebê no quarto, enrolado em panos e em posição vertical (dentro do balde) para que ele relaxe e até durma, se quiser;
• oferecer ao casal a possibilidade segura de aplicar vacinas e realizar procedimentos dolorosos no bebê somente após estar acertada a amamentação;
• ouvir os pais e explicar detalhadamente todos os procedimentos e exames necessários para o bebê e sugerir soluções práticas para sua realização;
• dar suporte e resolver todos os problemas relacionados ao manejo da amamentação exclusiva;
• fazer visitas médicas complementares (hospitalares ou em casa, no caso de parto domiciliar), se necessário, para garantir os cuidados adequados e individualizados para cada bebê, de acordo com suas necessidades e os problemas diagnosticados.
Alguns diferenciais do pediatra humanizado:
• disponibilidade para estar presente no momento do parto;
• abertura para ouvir e acolher os questionamentos dos pais com relação à própria conduta, aos procedimentos do hospital ou da equipe;
• assertividade para proteger o bebê de rotinas hospitalares desnecessárias que impeçam um nascimento natural e impossibilitem a amamentação precoce;
• disponibilidade para atender chamados durante o período pós-parto;
• acolher as demandas e vontades do casal quanto a todos os cuidados e procedimentos que serão dispensados ao bebê durante sua estada no hospital;
• oferecer alternativas domiciliares de tratamento após a alta para problemas como dificuldades na amamentação, banho de luz para tratamento de icterícia, além de consultas em casa para pais que assim desejarem nas primeiras semanas de vida;
• disponibilidade para responder a todas as ligações dos pais, sem demora, seja de bebês com poucos dias vida ou de crianças maiores;
• utilizar os diversos meios de comunicação disponíveis como e-mail, programas de troca de mensagens instantâneas e torpedos para agilizar a comunicação com os pais;
• disponibilidade para conversar com pediatras de prontos-socorros onde seus pacientes porventura estejam sendo atendidos em casos de urgência para avaliar em conjunto as condutas médicas que estão sendo tomadas;
• disponibilidade para visitar, quantas vezes necessário, os bebês que precisarem de internação com o objetivo de acompanhar as condutas propostas e sugerir mudanças, além de esclarecer as dúvidas da família e dar suporte emocional aos pais.
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* O autor é médico pediatra e faz parte da equipe de profissionais da Casa Moara.

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