segunda-feira, 22 de agosto de 2011

Relato de Parto Normal com anestesia de Bianca Balassiano

Bianca Balassiano é consultora em Aleitamento Materno, e sou fã do trabalho dela! Perguntei a ela se poderia compartilhar este relato de parto, porque muitas mães classificadas como obesas e até obesas mórbidas ( caso da Bianca quando pariu sua filha), pensam, acham que sua única opção é a cesariana. A obesidade pode ser um ponto que dificulte o parto normal, mas não o impossibilita!! Retirei este relato da Parto do Princípio. Leiam é lindo!!



Relato de parto de Bianca Balassiano - Nascimento da Julia 
Gestante classificada como obesa mórbida. Parto normal tranqüilo com anestesia e sem episiotomia.

Gostaria que esse relato servisse de alerta às mulheres que estão acima do peso, obesas e até mesmo obesas mórbidas, para que não deixem que seu sonho seja manipulado por profissionais despreparados e mal-intencionados.
Obviamente uma gravidez em uma mulher mais magra é melhor e mais saudável. Mas a gravidez das gordinhas também pode ser segura. Sempre procurei lembrar que eu não era a primeira e não seria a última gorda a parir, certo?
Sempre fiquei de olho nos problemas reais da obesidade x gravidez que eram: a pressão alta, possível pré-eclâmpsia e o diabetes gestacional. Para evitar estes problemas, mantive uma dieta mais saudável durante a gravidez, privilegiando os alimentos de baixo índice glicêmico, preferindo os integrais, frutas e saladas. Mas não deixei de dar minhas escapadas e engordei pouco, mas engordei sim. Fiz hidroginástica, ioga e não dei ouvidos aos que tentaram me demover do meu sonho.
Sim, ouvi de vários obstetras que a cadeira de cócoras não era pra mim, que o parto normal não era pra mim, que eu era muito gorda pra isso, que tinha que emagrecer. É claro que é válido emagrecer para engravidar. Mas pra mim era um sonho que não dava pra adiar. E ponto final.
Depois de ir a um casamento no domingo, dia 3/07, onde todo mundo ficou me cobrando e me secando, afinal de contas eu já tinha passado das tais 40 semanas, resolvi que na segunda ia dar uma mãozinha pra ver se minha filha resolvia finalmente dar as caras.
Acordei cedo no dia 4, peguei um dos meus sobrinhos que estava aqui em casa e fomos dar uma bela caminhada pela praia. Fui lá na areia, com a água batendo nos pés, e andamos bastante enquanto eu me despedia do barrigão e contava pra minha filha as maravilhas que a aguardavam aqui do lado de fora. Quando cheguei em casa, ainda completei com uma banheira bem quentinha e fiquei relaxando lá dentro, quase com a certeza de que a Júlia não iria demorar.
À noite, vendo TV na sala com o Théo, senti como que se o xixi tivesse escapado, e tava tão distraída que ainda soltei: “só me falta estar com incontinência urinária agora!!!”. Aquilo ainda se repetiu umas outras vezes, até que eu me toquei que poderia ser um rompimento da bolsa. Caramba!!! Era o que eu mais temia a gravidez toda... mas ainda tava na dúvida, afinal de contas o líquido jorrava quando a bolsa rompia, certo? E comigo só saía um pouquinho, molhava a calcinha e tal. Me certifiquei de que o líquido estava transparente, coloquei um absorvente e fui dormir. No dia seguinte, assim que acordei e fui ao banheiro, constatei que o tampão estava saindo. Já tinha saído um pouco, uma semana antes, mas como eu tinha ficado eufórica e nada tinha acontecido, achei que seria mais um alarme falso.
Liguei só no dia seguinte, às 8:30h pro Xico (obstetra), pra falar da saída do líquido e ele me falou pra colocar um absorvente, coisa que eu já tinha feito. Fiquei vendo TV... e de repente sinto uma dor. Uma cólica fortezinha, uma necessidade de sair daquela posição, de levantar. Resolvi rebolar, fazer uns exercícios da ioga, não sabia se aquilo ia progredir.
Vim pro computador, falei pelo MSN com a Ingrid que, naquela hora, ainda era minha doula titular, já que a Fadinha (minha doula oficial e profa. de ioga) estava no congresso da Naoli (Vinaver – parteira mexicana). Quando terminei de falar com a Ingrid, umas 10h da manhã, me liga a Wal, secretária da Fadinha, avisando que ela estava chegando. Eu queria falar pra Wal que tinha sentido alguma coisa, assim ela passava o recado pra Fadinha ficar alerta, mas minha cunhada tava do meu lado e não queria falar pra mais ninguém que eu tava na suspeita, pra evitar cobranças.
Voltei pro quarto e mais ou menos uma hora depois senti outra dor: fiz a mesma coisa, bastante rebolado, acocorei, a dor ficava mais forte, mas depois passava. De repente eu percebi que existia um ritmo, que ela ia e voltava. E, quando me dei conta, já era uma dor imensa e sem intervalos pra respirar... não lembro ao certo, mas acho que liguei pra Fadinha pra avisar que “alguma coisa estava acontecendo”, era terça-feira, dia de aula dela, então achei melhor deixá-la de sobreaviso.
Cheguei a pedir pro Théo cronometrar, mas eu não tinha intervalos certos. Acredito que depois de 13h a dor realmente ficou bastante forte e eu pedi que ele ligasse pro Xico. Até hoje não sei direito o que eles falaram no telefone, mas eu já tava meio desesperada, no chão do banheiro e com muita dor e o Théo me disse pra ir pro chuveiro. Foi maravilhoso. Não faço a menor idéia de quanto tempo fiquei naquele chuveiro, deixei a água bater e quando a dor vinha forte me segurava na janela que tem em cima e berrava horrores. Minha cunhada depois me contou o horror de ver só os meus dedinhos ali do lado de fora e ouvir aqueles berros... eu nem sonhava que tinha gente na minha casa, senão eu tinha tido um treco.
O Théo ligou pra Fadinha e pediu que ela viesse com urgência. Acho que ela chegou por volta das 14h e imediatamente me mandou pra banheira. Fiquei com receio de ir pra banheira, eu não sabia quanto tinha de dilatação, mas confiei na experiência da Fadinha. É claro que foi ótimo. Eu fiquei dentro da banheira com o chuveiro ligado e a água batendo na minha barriga. A Fadinha entoou uns mantras maravilhosos, eu fechava os olhos e recorri a um mordedor que tinha ganho pro bebê... nossa, como eu mordi aquele negócio. Eu tava feliz porque a hora tava chegando, mas não conseguia curtir nada daquilo por não ter um intervalo pra descansar. Me lembro de falar o tempo todo “puxa, mas se pelo menos eu tivesse um intervalo...”. A Fadinha me disse que era assim mesmo e que eu procurasse relaxar. Me pediu pra tentar ficar em outras posições, mas a dor me impedia de fazer muitas coisas.
O Théo entrava e saía do banheiro o tempo todo pedindo pra gente ir logo pra Perinatal. Eu tava com muita dor, mas queria saber quanto tinha de dilatação. Vai que ainda tava no começo... eu não queria correr o risco de chegar lá e ainda faltar muito tempo, acabar em cesárea, etc. Além disso eu não via nenhuma possibilidade de sair daquela banheira. A dor era insuportável, tive que fechar os olhos, tomar muita coragem, levantar e disse: “vamos agora, se não eu não saio mais”. Lembro que a Fadinha colocou uma bolsa de água quente nas minhas costas, aquilo não ficava preso de jeito nenhum e eu comecei a ficar nervosa com aquilo. Tinha que colocar uma roupa e não conseguia me secar, saí de casa completamente molhada, com a roupa grudada no corpo e havaianas. Depois me toquei que eram 17h e nós pegaríamos o Rebouças. Eu não ia agüentar se tivesse trânsito. E foi um milagre... entre furadas de trânsitos, ruas milagrosamente vazias e pegadas de contra-mão na R. das Laranjeiras estávamos lá em 10 minutos.
O Xico já tinha chegado e feito a pré-internação pra mim, o que foi maravilhoso. Cheguei com aquela cara horrível e ele foi logo me dizendo pra abrir os olhos, pra dor poder sair. E eu lá conseguia???? Fomos direto pra tal sala de parto humanizado, a que eu tinha visitado. Lembro da subida no elevador, dele conversando com um menino surdo que carregava as malas, mas isso tudo parece uma névoa na minha cabeça, eu tava surtada de tanta dor. Quando eu deitei na cama o Xico veio logo ver a dilatação e disse que eu tava com quase 9. Foi maravilhoso...nossa, meu maior medo era chegar lá e ele dizer que eu tava com 1 ou 2 – acho que eu teria um treco.
Lembro que o Xico me apresentou o Geraldo, anestesista, e eu já fui com minha grosseria peculiar dizendo que eu o chamaria se precisasse dele. O fato é que eu fiquei na dúvida se conseguiria agüentar mais ou se pedia arrego. Sim, porque depois de tudo o que eu li, vi, ouvi, pedir anestesia era um pedido de arrego. Por fim resolvi chamar o Geraldo de volta. Percebi que eu queria vomitar aquele bebê a qualquer custo pra acabar com a minha dor e não era esse o meu plano de parto. Eu sonhei em curtir aquele momento, eu tava fazendo aquilo tudo pela minha filha, porque eu sei que é o melhor pra ela, quem era eu pra estragar tudo no final? Quando me decidi pela anestesia, queria que fosse num passe de mágica. Nossa, como demoroooooooooooou, vira de costas, fica paradinha (impossível!!!), bota agulha, bota fita, o Geraldo fazendo questão de explicar tudo e eu já tava pra lá de Bagdá.
Lembro que pedi desculpas pra Fadinha por estar pedindo a analgesia e ela mesmo me mostrou como era uma bobagem aquilo que eu falava. Caramba, o parto era meu! Eu tinha lá que dar satisfações pra alguém das minhas escolhas? Tudo bem, é muito gratificante fazer tudo naturalmente, e depois a gente sai com um ar de “fodona”, “não precisei de anestesia” e tal, mas...eu precisei!! E, mesmo se eu não tivesse precisado, eu quis, caramba! E foi maravilhoooooooooso. Depois que a anestesia fez efeito, lembro do Xico falando “Ah, essa é a Bianca que eu conheço!”, sim, porque eu tinha me recuperado. Voltei a sorrir, a tomar consciência do momento, a realizar a beleza e a perfeição de tudo o que acontecia.
Fiquei com medo da anestesia me deixar grogue, mas que nada. Alguns minutos depois e eu tava de pé, fazendo exercícios com a Fadinha com um apetrecho que ela acabara de trazer do México. Usei a bola e não quis a banqueta de cócoras porque achei muito baixinha. Escolhi a música, fiz piada e comecei a me dar conta de que mais alguns minutos minha filha estaria nos meus braços. Aos poucos a dor voltava, eu sentia as contrações novamente e uma vontade de fazer força. Eles montaram a barra que me permitia ficar de cócoras e eu comecei a treinar. Eu tinha um medo muito grande de não conseguir ficar muito tempo ali por causa do meu peso. Que o peso nas pernas pudesse me atrapalhar na hora de fazer força, mas isso não aconteceu. A contração vinha e eu me apoiava na barra pra fazer força. O Xico colocava a mão lá dentro e dizia algumas palavras de encorajamento. Acho que nesse momento a Fadinha tava filmando... Eu não me lembro direito, devo dizer. Preciso ver o vídeo, agora que já tenho coragem. Sei que gritei muito, tentei manter o queixo colado no peito e tentei gritar da maneira que o Xico me ensinou.
Acho que não consegui, mas o importante é que depois de umas 4 forças, eu acho, minha filha tava ali. Caramba, eu senti exatamente o tal círculo de fogo. Começou a arder tudo e parecia que ia pegar fogo. E, rapidamente eu pensei: é agora!!! E quando olhei pra baixo, tava ela ali! Foi inacreditável... como é que uma coisa daquela sai de dentro da gente???? A gente passa tantos meses convivendo, pensando, imaginando, mas ainda assim não dá pra acreditar. Era a minha filha, a minha Júlia, toda rosinha, toda linda. Minha filha nasceu limpa...sem vérnix, sem nada. Foi colocada no meu colo e desse momento eu nunca vou me esquecer.
Ficamos namorando um bom tempo e a pediatra foi ótima – ficou só observando e não interviu em momento algum. Um tempão depois o Xico ofereceu o cordão pro Théo cortar (quando o cordão já havia parado de pulsar) e, contrariando todas as expectativas, ele cortou. Não queria deixar eles saírem pro berçário, mas enfim, tinha que sair a placenta, dar os pontos, e ela tinha que ser pesada e medida. O Théo foi então com a Júlia e a pediatra pro berçário. Acho que o Xico mexeu um pouco e a placenta foi expulsa – achei uma delícia. Depois ficou um tempo dando os pontos na laceração (não sofri episiotomia, meu maior medo!), não sei quantos pontos foram, lembro que eu reclamava um pouco quando ele puxava a linha, mas não era nada (não perto da dor de antes...).
Quando terminamos veio uma enfermeira me limpar – trabalho péeeessimo – e depois fiquei no corredor esperando uma eternidade até me levarem pro quarto. Lembro que o Xico e o Geraldo insistiram com a enfermeira se podiam me levar eles mesmos, mas ela não deixou. Fiquei deitada com as câmeras em cima da minha barriga vendo as fotos e a filmagem enquanto não chegavam pra me levar. Como estávamos demorando, ainda pedi pro Geraldo o celular dele emprestado, pra dar uma ligadinha pro Théo e lembrar a ele pra não deixar a Júlia sozinha em nenhum momento, senão podiam enfiar a garota na incubadora (incubadeira, sei lá...).
No fim das contas minha filha não sofreu nenhuma intervenção, como eu havia pedido (a não ser a vitamina K que a pediatra não abria mão, mas ela realmente não sofreu na aplicação). Ela nasceu às 19h44, com 3240g , 47,5cm, apgar 10/10. Às 21h30 consegui chegar no quarto e às 23h eu tava tomando meu banho...sozinha! No dia seguinte tivemos alta e ainda fiquei no hospital até o fim do dia pra dar tempo de receber algumas visitas. A recuperação foi ótima. Os pontos não doeram nadinha, passei o spray e a pomada de arnica conforme recomendado, mas aquilo incomodou muito pouco.
Enfim, assim foi o parto da Júlia, o parto dos meus sonhos.
Agradeço à mim mesma, pela capacidade de me informar, correr atrás, ter coragem de fazer diferente e de peitar aqueles que duvidaram. Agradeço ao Théo por ter me apoiado nas decisões, principalmente na troca de obstetra. Agradeço ao Xico por ser a pessoa que é, por me fazer acreditar que meu peso não impediria o parto dos meus sonhos.. Agradeço à minha irmã Danielle, por ter me apresentado às listas de discussão na internet. Agradeço às meninas das listas “Parto Nosso” e “Mães Empoderadas” por compartilharem informações valiosíssimas. Agradeço à Fadinha pela preparação e acompanhamento e ao Geraldo por ter dado a anestesia de maneira perfeita. Agradeço à Deus pela realização do sonho de ter minha filha aqui comigo, e que ela seja a primeira de uma linda família.

Bianca Balassiano 
Rio de Janeiro - RJ


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